Há algo do conceito do super-homem de Nietzsche no movimento que defende a separação da região Sul do resto do Brasil. O filósofo alemão teorizava que o super-homem seria um ser superior, com a missão de alçar a humanidade a um patamar mais elevado, diferente dos demais membros da espécie. Era um otimista.
Os separatistas que querem a independência do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná e Mato Grosso do Sul – este agora com a comenda sulista – veem na cisão geográfica a saída perfeita para o fim da roubalheira, do banditismo, da malandragem, do jeitinho brasileiro, da decadência tecnológica, da fragilidade econômica.
INSPIRAÇÃO HISPÂNICA
Em outubro do ano passado, em meio à crise no país, fizeram a primeira consulta. Foi um fiasco. Agora com o movimento na Catalunha, a região nordeste da Espanha, julgam-se novamente inspirados. O histórico, no entanto, é desanimador.
As divisões geográficas ou seus ensaios vêm ocorrendo ao longo da história do mundo sem, no entanto, esboçar algum sucesso. Na década de 30, os paulistas quiseram separar-se do país reclamando uma Constituição que não havia. Eram a locomotiva orgulhosa do país que, cedo, ia sair dos trilhos, mesmo com a propalada força de sua indústria. Nos Estados Unidos foi necessária uma guerra de civil, que durou cinco anos e ceifou 600 mil vidas, para garantir a sobrevivência da federação.
O PARANÁ VENEZUELANO
Houve, depois, separações ideológicas e econômicas: as Alemanhas, os países que integravam a União Soviética, o Sudão do Sul e do Norte, o Iêmen do Sul e do Norte, a Coreia do Sul e a da Norte de Kim Jong-un.
Em menor escala e na seara das piadas, o Leblon criou um contencioso com Ipanema, o Paraná de Requião por pouco não virou a filial bolivariana da Venezuela, e a República de Curitiba, cheia de si, decretou sua independência sob a liderança de Sérgio Moro. No Carnaval, há que se lembrar que a Tradição separou-se da Portela em busca de suas origens.
Deu em nada. Ninguém mais sabe da escola de samba dissidente, nem se ainda existe.
MUITAS CONSOANTES E POUCAS VOGAIS
Os que defendem a independência do Sul do país julgam que, assim, estarão isolados do vírus da corrupção que assola Brasília. Há também aí o conceito implícito de eugenia, afinal os estados que formarão o novo país têm raízes europeias e as famílias sobrenomes de muitas consoantes e poucas vogais.
‘DEPORTADO’ PARA O BRASIL
A consulta será no sábado, 7 de outubro, mas não deve provocar correrias. O voto não é obrigatório e quem se dispuser a comparecer terá à disposição urnas nos 1.094 municípios dos quatro estados. Só não pergunte onde, os organizadores também não sabem. O risco sempre existe.
O eleitor, por exemplo, pode ser presenteado com um convite para o show do Gaúcho da Fronteira no CTG mais próximo. Ninguém é obrigado a ir, afinal isso é uma democracia, mas caso vá, a bombacha e o chimarrão são obrigatórios. Quem desobedecer será deportado. Sim, para o Brasil real.
ESTADO DO IGUAÇU
Pretensões separatistas são antigas na região Sul.
O Paraná não ficou infenso a esses movimentos: no começo dos 1960, Edi Siliprandi foi um dos líderes do movimento separatista que propunha a criação do Estado do Iguaçu. Seu fortim ficava em Pato Branco.
O território resultaria de parte do Oeste e Sudoeste paranaenses, assunto que os “secessionistas” pretendiam que se resolvesse por plebiscito. Nunca aconteceu. Outro movimento separatista de que me lembro também, se desenvolveu na área contestada, de limites nebulosos, nunca claramente definidos até então, entre Espírito Santo e Minas Gerais. O território formaria um novo Estado a partir de Mantena.