Prosa Gastronômica, por Katia Michelle – O que a comida brasileira, mexicana e italiana têm em comum? Um empresário que tem Brasil até no nome, mas não abre mão de provar a culinária de todos os países e, mais ainda, de antecipar o que vai conquistar o público. Márcio Brasil, nascido em Palmas (PR), mudou-se para Curitiba na adolescência e, na cidade, fez o (nada) óbvio. Abriu uma pastelaria bem brasileira perto da Universidade Federal do Paraná (UFPR), onde estudava Gestão da Informação.
“Eu queria passar em Direito, mas como não deu, tive que escolher outro curso”, conta. Ele estudava e aprendia culinária com a mãe enquanto fritava milhares de brasileiríssimos pastéis no restaurante da família. O comércio nasceu como “Pastel Quente” e terminou como “Roxinho”, um dos mais icônicos bares universitários da região.
Com o tempo, Márcio – que aprendeu tanto sobre negócios quanto sobre cozinha – quis seguir carreira solo e começou a pesquisar o que poderia abrir na cidade. Por sorte ou empenho, apareceu um ponto no Centro Cívico, onde ele pensou em montar um restaurante de comida saudável. Porém, ele tinha acabado de voltar dos EUA e proximidades, e estava com a gastronomia mexicana no paladar.
Pesquisa vai, pesquisa vem, notou que a cidade era carente desse tipo de culinária.
O ano era 2007 e ele decidiu criar o Zapata, nome inspirado em um dos principais líderes da Revolução Mexicana, um símbolo da resistência popular e da justiça social no México.
Mas política não se leva à mesa, e o Zapata prosperou. Virou franquia e, depois, unidades próprias. “Durante a pandemia, os franqueados queriam entregar o ponto, então resolvi assumir”, conta. Hoje são mais seis unidades em shoppings, mas é no Centro Cívico que a banda toca. Com decoração mexicana, pratos mexicanos e músicos mexicanos (ou quase).
Uma rua separa o México da Alemanha

Do México para a Alemanha foi um “pulinho”. Quer dizer, nem tanto esotérico assim. Na frente do Zapata tinha uma igreja, um ponto que o empresário ficava de olho. “Eu torcia para que os fiéis aumentassem e o lugar ficasse pequeno”, brinca. Oração aceita, foi o próprio padre quem o avisou que o ponto estaria livre. Ele até pensou em expandir o Zapata, mas… tinha acabado de chegar da Alemanha e estava com a gastronomia alemã no paladar.
Pesquisa vai, pesquisa vem, notou que a cidade era carente desse tipo de culinária e decidiu apostar. O bar que era para nascer Berlim surgiu há três anos como Essen Biergarten. Fui lá esses dias e fiquei observando o Márcio Brasil recolhendo os pratos das mesas, verificando os pedidos e conversando de perto com a equipe, de olhos bem atentos.
“Eu sempre fui bastante operacional. Tenho que ajudar. Tem muito restaurante que funciona sem o dono, mas, para mim, isso não funciona. Eu gosto da cozinha, do contato com o cliente”, diz o empresário, que se formou em gastronomia em 2018. Lá, o forte, claro, são os clássicos da culinária germânica, como Eisbein (joelho de porco) e Hackepeter (o steak tartar alemão), inspiração da tradicional carne de onça curitibana.
Eu pedi o Spätzle com cogumelos para dividir (os pratos são muito bem servidos). Chegou um pouco frio à mesa, mas vamos dar um desconto. Tem mesas ao ar livre, pertinho do espaço kids. Uma comodidade para quem vai com crianças. E quem não vai, tem mesas do outro lado ou internas também. E dá para visitar a Alemanha e o México só atravessando a rua (não resisti). Para quem quiser conhecer, tem uma ótima oportunidade. Tem festa de aniversário no próximo sábado (01), das 11h30 à meia-noite.
Serviço
- Zapata: R. José Sabóia Cortês, 383
- Essen: Rua José Sabóia Cortês, 358

*Katia Michelle é jornalista formada em Comunicação Social e bacharel em Artes Cênicas. Trabalhou durante uma década na Folha de Londrina, passou pelo marketing de grandes empresas e foi editora na Gazeta do Povo. Aprendeu que comida é mais do que a junção de ingredientes e, desde então, vaga entre palavras e receitas, procurando o léxico, o sabor e o aroma perfeitos.
