Raul Urban* – Nesta quinta-feira, 17 de julho, a última grande nevasca havida em Curitiba completa 50 gloriosos anos, e continua na memória de uma geração que, por um dia, dedixou de lado as preocupações, transformando Curitiba num endereço com cara europeia. Além da data comemorativa, uma curiosidade única: o calendário de 1975 é exatamente igual ao deste ano de 2025, como comprova a imagem abaixo, ou seja, a neve que surpreendeu os curitibanos há tanto tempo, também se deu numa quinta-feira, após uma quarta-feira então quente e abafada, com temperatura relativamente alta. Mas, e o que provoca essa coincidência de calendários?
Segundo os estudiosos, o alinhamento se deve ao ciclo do calendário gregoriano, que, em intervalos regulares, acaba repetindo a mesma sequência de dias e datas, desde que os anos bissextos não interfiram nesse andamento.
Apesar de a neve de 1928 ter, provavelmente, sido a mais forte até então registrada na cidade, Curitiba, conforme registros históricos, conviveu com o fenômeno, em menor ou maior escala, em outros momentos, boa parte registrados pela imprensa, em maior ou menor grau. Segundo o jornal “Diário da Tarde”, a fazer o primeiro registro de que se tem notícia, a neve caiu no dia 19 de junho de 1889 – poucos meses antes da proclamação da República -, e a temperatura teria chegado a 6,5 graus Celsius negativos. “O gelo chegou a até duas polegadas nos telhados”, foi a anotação.
A segunda nevasca forte remete a 30 de julho de 1892, quando Cândido Ferreira de Abreu era o prefeito da cidade. Na véspera, a temperatura oscilou entre 15 e 31 graus Celsius, e no dia 30, a mínima registrada foi de apenas 1 grau para quem estava na rua.
No dia 3 de setembro de 1912, nevou rapidamente das 7h às 10h, durante a gestão do prefeito João Antônio Xavier, mas poucos registros existem, ao contrário da mais forte nevasca já havida até então, iniciada em 31 de julho e que durou até 1 de agosto de 1928, deixando muitas regiões da cidade, em especial a Norte, com até 50 centímetros de gelo e neve, o que exigiu muita atenção do então prefeito João Moreira Garcez para garantir a segurança urbana.
Em dois momentos – 1943, durante a Segunda Guerra Mundial, e 1955, de acordo com breve registro no jornal “O Dia” – de novo nevou na capital, mas com pouca intensidade. Dois anos depois, em 21 de julho de 1957, o “Diário do Paraná”, então um importante jornal ligado à cadeia dos Diários Associados dirigida por Assis Chateaubriand, informava em manchete de página: “Cai bruscamente a temperatura no Paraná: voltou a nevar em Curitiba”.
A nevasca de 1975

O 17 de julho de 1975, igualmente antecedido por uma quarta-feira abafada, amanhece, para surpresa dos curitibanos menos prevenidos, com a temperatura indicando 2 graus Celsius negativos, deixando a maior parte da cidade inteiramente branca. Com ares europeus, Curitiba viu nascer em pleno centro bonecos de neve, pessoas andando com passos apressados vestindo grossos trajes de lã que até ali haviam sido esquecidos no guarda-roupas, enquanto a neve, depois de se desfazer nas ruas, aqui e ali dificultava o tráfego regular dos veículos e ônibus, sujeitos a inesperadas derrapagens.
Dentro de um cenário normal para o inverno de então, o dia foi único, celebrado, um momento efusivo acompanhado de perto pelo então prefeito, o saudoso engenheiro Saul Raiz, que administrou Curitiba de 1975 a 1979. A propósito: a neve de 1975 foi oficialmente registrada, mais adiante, em um dos cadernos da Coleção LeitE QuentE, então publicados pela Fundação Cultural de Curitiba, quando a também já saudosa jornalista Rosirene Gemael publicou “Curitiba Branca de Neve”.
*Raul Urban é jornalista, escritor, memorialista, pesquisador da memória histórica e ligado à área do transporte multimodal integrado e colaborador do Mural do Paraná.