sexta-feira, 25 julho, 2025
HomeColunas do MuralMemória Urbana: A gênese de bairros que formaram Curitiba 3

Memória Urbana: A gênese de bairros que formaram Curitiba 3

Raul Urban* – Uma cidade é feita de histórias, lembranças e memórias. E é esse o objetivo deste espaço – o que chamamos Memória Urbana -, quando o propósito deste colaborador, jornalista, pesquisador da memória histórica e ligado à área do transporte multimodal integrado, neste espaço, periodicamente mergulha em fatos e detalhes que contam fatos curiosos, interessantes e importantes para o desenvolvimento e o bom planejamento urbano.

Damos sequência a este breve olhar sobre a forma de como os 75 bairros, surgidos no andar dos 332 anos, contribuíram para consolidar a Curitiba que hoje conhecemos.

  • Mercês – Até meados do século 19, a região onde hoje está o bairro era formado por pequenas chácaras administradas por lavradores que plantavam, predominantemente, milho e feijão mas existiam também carpinteiros e ferreiros. As araucárias formavam a paisagem do então chamado Quarteirão de Nossa Senhora das Mercês, onde, a partir de 1859, chegaram as primeiras levas de imigrantes alemães, italianos e poloneses, mas onde já viviam muitos negros. Esse Quarteirão, originalmente se estendia aos espaços compreendidos pelos atuais bairros Pilarzinho, Campina da Siqueira (antes, Campina do Côrtes); VistaAlegre (antes, Sítio do Mato), e o espaço onde hoje está a torre da antiga Telepar, então conhecido por Teixeirão. O Botafogo Futebol Clube é de 1925, e a Igreja das Mercês, de 1927, com carroças indo e vindo de Santa Felicidade pela então Rua do Cruzeiro – a atual Avenida Manoel Ribas, carregando verduras, lenha, leite e ovos para venda junto ao bebedouro do Largo da Ordem, no centro. Nos anos 1970, ruas asfaltadas e os primeiros prédios ganharam o bairro de comércio intenso, em em 17 de dexembro de 1990 inaugurou-se a então chamada Torre da Telepar, ícone arquitetônico da moderna tecnologia da comunicação.
  • Novo Mundo – O ano é 1909. No dia 15 de novembro, quando o imigrante espanhol Joaquim Font desembarca em Curitiba, na região do atual bairro Portão, e se depara com comemorações que pensa serem dirigidas a ele, descobre que, na verdade, a população comemora os 20 anos da Proclamação da República, que remete a 1889. Font alega ter vencido mais uma etapa na vida, ao dizer que “numa terra estranha encontro um novo mundo feliz e sorridente”. Ao se estabelecer na região sul, constrói um armazém chamado Novo Mundo, que acaba dando nome ao bairro colado ao do Portão.
  • Orleans – Com área de 512 hectares, o bairro se origina em 1867, quando, por determinação do governo imperial, o governador provincial Lamenha Lins forma colônias na região de Curitiba, incluindo a Colônia Orleans, abrigando 63 famílias e 250 habitantes. A ocupação foi predominantemente de imigrantes poloneses, que receberam o imperador D. Pedro II no então Distrito de Nova Polônia, a caminho de Ponta Grossa. David Carneiro lembra que em 1920, 566 crianças ali residentes estavam em idade escolar. Nos anos 1950 predominavam os armazéns de secos e molhados, as estradas não tinham pavimento e a água vinha do poço, seja no Orleans, como nos bairros próximos – Riviera, Augusta e São Miguel. Dez anos depois, as roças para cultivo de alimentos foram desapropriadas para abertura de ruas e a instalação da face norte da Cidade Industrial de Curitiba. Em 1975, esses bairros comemoram o centenário de instalação. O progresso, em 1986, marca a inauguração da Estação de Abastecimento de Água do Rio Passaúna, com 3,5 milhões de metros quadrados. Juntos, os bairros citados somam hoje em torno de 2.350 hectares ricos em água e muita área verde.

*Raul Urban é jornalista, escritor, memorialista, pesquisador da memória histórica e ligado à área do transporte multimodal integrado e colaborador do Mural do Paraná.

Leia Também

Leia Também