Raul Urban* – Uma cidade é feita de histórias, lembranças e memórias. E é esse o objetivo deste espaço – o que chamamos Memória Urbana -, quando o propósito deste colaborador, jornalista, pesquisador da memória histórica e ligado à área do transporte multimodal integrado, neste espaço, periodicamente mergulha em fatos e detalhes que contam fatos curiosos, interessantes e importantes para o desenvolvimento e o bom planejamento urbano. A estreia se dá com um breve olhar sobre a forma de como os bairros – oficialmente são 75 -, surgidos no andar dos 332 anos, contribuíram para consolidar a Curitiba que hoje conhecemos.
Num primeiro momento abordamos, em ordem alfabética, alguns dos mais antigos e tradicionais bairros curitibanos, rapidamente falando da influência étnica responsável pela consolidação de cada um desses pontos. Essa mescla sociocultural, étnica e afins, é a marca registrada de uma cidade com oficialmente 75 bairros cadastrados. Todos com seus nomes oficiais, mas aqui também retratados os que, hoje incorporados a essa ou aquela região, por décadas e gerações antigas foram conhecidos por nomes diversos – um registro histórico a ser guardado, como abaixo:
- Campo da Galícia – As gerações mais antigas, numa área então distante do centro, disputavam animadas partidas de futebol de pelada em um espaço urbano predominantemente ocupado por famílias polonesas, alemãs e ucranianas e seus descendentes, no fim do século 19, que ali mantinham as suas chácaras e forneciam alimentos trazidos por carroções ao Largo da Ordem, onde havia a tradicional feira. O Campo da Galícia era o nome antigo do bairro Bigorrilho, em Curitiba, antes de ser oficialmente chamado de Bigorrilho Mais recentemente, atendendo a um processo mercadológico imobiliário, aquele espaço ganhou o hipoteticamente sofisticado nome de Champagnat, oficialmente não reconhecido pela municipalidade.
- Centro Cívico – O nome, oficial, remonta a 1953, quando o então governador Bento Munhoz da Rocha, numa alusão ao centenário da Emancipação do Paraná, instala numa só região toda uma estrutura que envolve os poderes executivo, legislativo e judiciário. Mas ali, e por longo tempo, o espaço abrigava um grande potreiro – segundo o dicionário organizado por Francisco da Silveira Bueno, em 1957, era “endereço de negociantes de potros e de gado, para cavalaria e tiro”. A região, então chamada de Antigo Campo do Paraná, se estendia por todos os fundos da então poderosa Companhia Estearina Paranaense. Com o agora nome oficial de Centro Cívico, ali se abrigaram o Palácio do Governo (o Palácio Iguaçu), Tribunal de Contas, Tribunal de Justiça, Tribunal de Juri, a Assembleia Legislativa, as diversas Secretarias de Estado e, mais recentemente, a sede da Prefeitura Municipal de Curitiba ( em 1968, quando o Palácio 29 de Março foi inaugurado pelo então prefeito e engenheiro sanitarista Omar Sabbag).
- General Carneiro – O que pretende ser uma homenagem ao militar Antônio Ernesto Gomes Carneiro (1846-1894), que lutou na Guerra do Paraguai, configura a região que hoje abrange parte do chamado Primeiro Alto da Rua 15 de Novembro. O general deixou sua marca na história paranaense, em especial, porque foi morto no episódio do Cerco da Lapa (no Paraná) e considerado herói na Revolução Federalista (1893-1895). Entrou para a história como o “Herói da Lapa”.
- Guabirotuba – Um dos mais antigos e tradicionais bairros curitibanos, estende-se ao longo da Avenida Senador Salgado Filho – o caminho que liga Curitiba e São Joé dos Pinhais. Durante longo tempo, o Guabirotuba abrigou o Matadouro Municipal, ainda na época em que a carne fresca era transportada ao comércio curitibano nos velhos bondes elétricos que serviram o transporte coletivo de 1912 a 1954 – havia unidades para passageiros e, também, especificamente, para cargas -, quando foram desativados.
- Hugo Lange – O que no distante passado não passava de uma enorme área campestre, ganhou forma de bairro e de habitabilidade graças à então Imobiliária Paciornik, que loteou a região, transformando-a em importante bairro predominantemente residencial, depois também endereço de pontos comerciais de destaque. O bairro ocupa área de 1,15 km² e faz fronteira com os bairros Jardim Social, Cabral, Bacacheri, Alto da XV e Juvevê. Apesar do seu crescimento nos anos posteriores, o bairro só recebeu a sua delimitação e nome em 1975, quando da definição, pela Prefeitura, dos 75 bairros oficiais da cidade.
- Juvevê – O nome deriva da palavra “Yubebã”, que na língua tupi significa espinho chato ou rio do fruto espinhoso. A denominação foi inspirada em um rio que passava pela região, fazendo crescer uma vegetação com árvores espinhosas e frutíferas, no caso, os juvevês. O Juvevê está localizado a cerca de 2 km do Centro de Curitiba, próximo aos bairros Alto da Glória, Ahú e Cabral. Residências de alto padrão e um rico universo comercial marcam o bairro que também oferece variadas opções gastronômicas. Apesar da presença da canaleta exclusiva por onde circulam os coletivos do Sistema de Ônibus Expresso no sentido Norte/Sul, o Juvevê é conhecido por ser um bairro tranquilo e bastante arborizado.
*Raul Urban é jornalista, escritor, memorialista, pesquisador da memória histórica e ligado à área do transporte multimodal integrado e colaborador do Mural do Paraná.