Por Hélio de Freitas Puglielli
Abilon de Souza Naves (1905-1959) foi um dos mais notáveis políticos do Paraná. Mineiro, de origem humilde, funcionário do antigo IAPC (Instituto de Aposentadorias e Pensões dos Comerciários), tinha tido experiência jornalística na “Gazeta do Povo”. Um de seus colegas de jornal, que também viria a se projetar na vida pública, era Léo de Almeida Neves.
Em 1951, Bento Munhoz da Rocha Neto era governador e criou a Secretaria do Trabalho, escolhendo Souza Naves para ser seu primeiro secretário.
Depois, ocupou outros cargos, como presidente do IPASE, presidente da Caixa Econômica Federal e, no governo de Juscelino Kubitschek, diretor da Carteira de Crédito Agrícola Industrial do Banco do Brasil.
SENADOR MAIS VOTADO
Em função do bom trabalho em todos esses cargos, tornou-se potencial candidato a promissora carreira política, pois conhecia a realidade de todas as regiões e a problemática de todos os municípios (naquela época em número bem menor do que agora), o que fortalecia seu prestígio. Em 1958, candidatou-se a senador, tendo mais do que o dobro dos votos dos adversários, e fazendo com que, pela primeira vez na História, o PTB paranaense chegasse ao Senado Federal. Lá, foi autor do projeto da lei que prorrogou os prazos para pagamento dos empréstimos feitos pelos cafeicultores duramente atingidos pela geada no Norte do Estado, com grande repercussão.
A MORTE INESPERADA
Em 1959, era tido como candidato imbatível ao governo do Estado, nas eleições que se realizariam no ano seguinte. Ninguém duvidava de que o mineiro de Uberaba chegaria ao Palácio Iguaçu (que havia sido construído na gestão do governador que o colocara na então recém-criada pasta do Trabalho). Uma grande homenagem foi organizada por seus correligionários em Curitiba, no restaurante da Sociedade Morgenau, ainda existente, na rua que agora leva o seu nome. Mas o dia 12 de dezembro de 1959 seria fatídico: Souza Naves caiu fulminado ao pronunciar seu discurso causando a maior comoção entre os participantes atônitos com o sucedido. Um deles era Iraty do Vale Daros, que mais tarde viria a ser conhecido como advogado trabalhista e que, na época, lutava para ser efetivado no quadro de repórteres do matutino “O Estado do Paraná”.
O DELÍRIO DO “FURO”
Iraty não teve dúvidas: correu para o telefone da secretaria da Sociedade e comunicou à redação do jornal a morte repentina de Naves. Ocorreu-lhe, então, que deveria evitar que o telefone servisse de canal para que outros pudessem comunicar a notícia a jornais concorrentes. Não teve dúvidas: além de desligar violentamente o aparelho da tomada, inutilizou-o com frenéticas pancadas. Em sua excitação, acreditava que assim asseguraria o “furo” e que uma edição especial poderia circular, colocando o “O Estado do Paraná” à frente dos outros jornais. Não foi o que aconteceu, pois a notícia imediatamente se espalhou, difundida pelo rádio e foi publicada, obviamente, por todos os jornais de Curitiba. O único galardão recebido por Iraty, infelizmente, foi o desconto, em seu salário, do ressarcimento do prejuízo causado à Sociedade.