Por Hélio de Freitas Puglielli
O falecido Mussa José Assis, uma das glórias de nosso jornalismo, começou a trabalhar como revisor de “O Estado do Paraná”, no final da década de 50, quando eu era copidesque lá.
Depois, fez um teste e foi trabalhar na sucursal da Última Hora (em segundo lugar ficou o Aroldo Murá G. Haygert, o que valoriza ainda mais a façanha do Mussa).
De Curitiba para S. Paulo foi um pulo e Mussa foi secretariar a edição paulista, até que o golpe de 64 desarticulou a Última Hora. Voltando a Curitiba, foi convidado por Paulo Pimentel para assumir a chefia de redação do jornal do qual fora revisor.
Aceito o desafio, uma das primeiras constatações foi a de que havia necessidade urgente de novos padrões de diagramação. Mussa lembrou-se da pioneira do ensino da matéria no Brasil, que havia conhecido em S. Paulo:
Clara Conti, professora da Faculdade Cásper Líbero (primeiro curso de jornalismo fundado no país).
Convidada, ela adorou a ideia, mas na época marido era “cabeça do casal” e mulher não tinha autonomia de voo. Felizmente João Féder, diretor do jornal, era muito amigo do marido de Clara e, num longo telefonema, conseguiu que ele concedesse a permissão para que a mulher permanecesse mais de um mês em Curitiba. E assim – graças a Mussa, Féder e Clara – “O Estado do Paraná” ganhou uma “cara” mais moderna e agradável.
O MILAGRE DO MUSSA
No início da década de 60, o jornal “O Estado do Paraná” tinha uma rotativa da mesma marca, modelo e ano de fabricação da que imprimia o jornal “O Estado de S. Paulo”. “O Estadão” paulista apresentava excelente qualidade de impressão, mas o “Estadinho” paranaense tinha muitos exemplares falhados e borrados, chegando até a comprometer a legibilidade do texto.
O problema consistia na equipe de gráficos que operava a máquina. Todos inimigos e cada um sabotando o trabalho dos demais. A disputa entre eles chegou ao ponto de recíprocas ameaças de morte. Imaginem!
Quando Mussa José Assis assumiu a direção, atacou em duas frentes.
Resolveu primeiro o problema dos linotipistas, que haviam se acomodado no uso de um único “magazine” (coleção de matrizes de impressão), o que deixava monótona a aparência do texto e, pior ainda, contribuía para a má impressão, pois o uso excessivo e constante desgastava os tipos. Mas havia dezenas de outros “magazines”. E, com Mussa, todos entraram em uso. Logo se acostumando ao pequeno acréscimo de trabalho, na troca de matrizes, os linotipistas nem “chiaram”…
O problema dos operadores da rotativa foi resolvido em três dias… ou melhor… em três noites, durante as quais Mussa, tal qual um “voyeur”, ficou observando o trabalho da problemática equipe de impressão. Na quarta noite. Mussa regulou pessoalmente a rotativa e proibiu que houvesse qualquer alteração dali em diante.
Duas consequências importantes: a impressão melhorou consideravelmente e – hosana nas alturas! – os impressores nunca mais brigaram.
(PROSSEGUE)