A prefeitura de Diadema, cidade da grande São Paulo, substituiu barracos por 23 sobrados pintados de cores diferentes em um projeto de revitalização. Na calçada em frente reservou um espaço para carros e plantou um jardim. Em cinco anos, a favela voltou.
Consulta ao Google Maps mostra que as casas da rua Novo Habitat – um nome curioso – tornaram-se irreconhecíveis. Os moradores ergueram novas paredes no espaço das calçadas e fizeram “puxadinhos” com tijolo cru. Buracos fazem as vezes de janelas e portas, sem vidro, esquadrias ou batentes. Trata-se de uma obra em progresso que não progride. Um provisório definitivo.
Todos os imóveis foram projetados com cozinha, sala, dois quartos e lavanderia, agora não mais visíveis. A construção precária tomou a calçada, ergueu-se e desfigurou um investimento de R$ 3,7 milhões. Em 2018, uma das beneficiárias do empreendimento comemorou. “Chovia muito dentro do nosso barraco. Agora está tudo perfeito. Somos seis pessoas. Eu, minha filha, três netos e meu genro” (mais o cachorro, o gato, a galinha). Os netos cresceram, tiveram filhos (mais cachorros, gatos e galinhas) e a família precisou de espaço. Dá-lhe “puxadinho”.
Antes de gastar essa dinheirama, o município poderia ter pesquisado projetos semelhantes. Todos eles naufragaram. Na Ásia, na África e na América do Sul. Especialistas sustentam que a culpa está na autogestão dos moradores. É um jeito empolado de dizer que os proprietários ignoram as regras e fazem o que lhes dá na telha.
As periferias urbanas não são apenas um fim de mundo. São também uma terra sem lei.
A solução não passa apenas pela devolução do centro da cidade às pessoas, mas também pela verticalização das moradias. Os riscos de um condomínio residencial sofrer esse revés são bem menores. Em um caso como o da rua Novo Habitat, as alterações na estrutura do imóvel teriam que passar pela régua da convenção, do regime interno e da assembleia de condôminos. Modelos habitacionais do tipo contribuem para a manutenção da propriedade e sua valorização.
O Diário do Grande ABC, que faz a cobertura noticiosa da Grande São Paulo, informa que o número de favelas cresceu 37% em Diadema e saltou de 210 para 350 em 12 anos. Cerca de meio milhão de pessoas moram nessas áreas.
A favelização das cidades inspirou o jornalista Roberto Pompeu de Toledo a definir o Brasil como “o país das lajes”. Trata-se de uma metáfora para uma vida melhor. Moradores de casas construídas em favelas depositam na laje a confiança na ascensão econômica e social. Não há telhado, há uma estrutura de concreto à espera de um novo cômodo. Em geral, ele não vem. A vida melhor idem.

Marcus Gomes é jornalista e advogado. Escreve sobre política, direito, condomínios e assuntos do dia a dia.
