Qual é a população do mundo? Segundo o Banco Mundial, são 8,2 bilhões. Mas a contagem não para porque nasce uma pessoa a cada fração de segundo. Os que tiverem curiosidade podem acessar o site The Population Project, que registra cada nascimento no mundo em tempo real a uma velocidade assustadora. Perde do Impostômetro, em São Paulo, que também pode ser acessado pela internet e está na casa dos trilhões. E, claro, para o Febeapá, o Festival de Besteiras Que Assola o País. Este imbatível.
Quantas pessoas vivem na capital do Rio de Janeiro? 6,7 milhões na estimativa mais recente do IBGE, o que significa o dobro da população da cidade nos anos 1960. Leio na imprensa críticas ao projeto de revitalização do centro carioca e pergunto o que querem eles, afinal? Há duas semanas, o lançamento de um condomínio residencial foi cancelado. Não por causa do fracasso da empreitada, mas pelo seu sucesso. Todos os 153 estúdios, com preços a partir de R$ 289 mil, foram vendidos em 24 horas. A construtora não viu razão em oferecer salgadinhos e bebidinhas aos convidados, inclusive a jornalistas, apenas para cumprir uma formalidade.
O preço cobrado pela construtora é o mesmo de um imóvel adquirido através do Minha Casa, Minha Vida pela população das faixas 1 e 2, de menor poder aquisitivo. Jaime Lerner tinha outro nome para esse projeto do governo. Chamava-o de “Minha Casa, Meu Fim de Mundo”. Porque essa é a maneira que os urbanistas encontraram para acomodar aqueles que sonham com a casa própria no seu devido lugar. Longe. Longe o bastante para viajarem uma hora e meia pendurados e apertados no transporte público. Longe o bastante para não disporem de asfalto, luz elétrica e comércio básico. Longe o bastante para que não incomodem e se deem por satisfeitos com um cantinho no Cafundó.
O jornal diz que os estúdios são pequenos, com paredes feitas de cascas de ovo, que não disfarçam o claro objetivo de satisfazer os especuladores imobiliários. A alternativa, dita nas entrelinhas, é deixar tudo como está. O que significa entregá-la aos zumbis da série Walking Dead
Verdade. Tudo o que sai da cabeça dos políticos coincide em muito com uma fralda usada. A escolha, no entanto, está entre o projeto de revitalização urbana da prefeitura carioca e o meu fim de mundo do governo federal. O que o município está propondo, ao pensar na verticalização, é devolver a cidade aos seus habitantes. É uma das alternativas que se apresenta aos mortos-vivos. A outra é não fazer nada.
Marcus Gomes é jornalista e advogado. Escreve sobre política, direito, condomínios e assuntos do dia a dia.