quarta-feira, 15 outubro, 2025
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Marcus Gomes: Filho de Pedro, não de Paulo

Paulo Leminski Neto, suposto filho do poeta curitibano falecido em 1989, foi chorar as pitangas na Flip – a Festa Literária de Paraty. Reclama parte do dinheiro da venda dos livros de Paulo Leminski, cujo espólio é gerido pela viúva, Alice Ruiz, e pelas filhas Áurea e Estrela. A imprensa se debulhou em lágrimas com a história do herdeiro perdido, escondido sob um manto de segredos. Mas há um detalhe para o qual não se atentou. Leminski Neto, que era Luciano Costa até 2021, recusa-se a fazer o exame de DNA. À “Folha de S. Paulo”, ele disse recentemente que pode se submeter ao teste, “mas desde que as irmãs façam o mesmo”. Isso não faz sentido.

No meio desse imbróglio surge Pedro, o irmão de Paulo Leminski, que pode muito bem ser o pai do filho renegado, hoje com 57 anos. Uma novelista da Globo certamente faria melhor. Eu não. Por isso vou apenas alinhavar as peças do drama.

Paulo Leminski ainda era casado com sua primeira mulher, Neiva Maria de Souza, a Neiva, quando o menino nasceu. Nessa época, Leminski e Neiva dividiam um apartamento no centro de Curitiba que era regido pelo “espírito do amor livre”. Viviam ali, como moradores permanentes, além do casal, o jornalista Ivan da Costa e, a partir de 1968, Alice Ruiz, que surgiu na festa de aniversário de 24 anos de Leminski e se instalou em sua vida.  Pedro Leminski era um morador descontínuo. Parceiro de Paulo em algumas músicas, ele aparecia no meio da noite, bêbado ou drogado – corriqueiramente as duas coisas – buscando um lugar para dormir. A cama poderia ser qualquer uma.

O nascimento de Leminski Neto foi registrado, em cartório, naquele mesmo ano. Em 1976, quando Paulo Leminski e Neiva formalizaram sua separação, ela se mudou com Ivan para o Rio e conseguiu obter uma nova certidão de nascimento em que o nome do menino é trocado para Luciano Costa a quem Ivan, que declarou ser o pai legítimo, deu seu sobrenome.

A hipótese é que Paulo Leminski tenha decidido figurar como pai na primeira certidão para livrar o irmão e a mulher do constrangimento. Essa arrumação, no entanto, teria sido desfeita quando Neiva e Ivan tomaram a decisão de mudar para o Rio, enquanto Paulo e Alice Ruiz permaneceram na capital paranaense.

Se Pedro estivesse vivo, ele talvez pudesse dar alguma luz aos trechos nebulosos dessa história, mas ele se enforcou em 1986, às vésperas de completar 40 anos. O irmão morreria três anos depois. Acho que não se pode falar em Curitiba sem falar em Paulo Leminski nem em Leminski sem falar em Curitiba. Ele é totem e tabu da cidade como o antipó que cobre suas ruas. Escreveu 600 poemas e haicais. São os que valem a pena. Do antipó vieste ao antipó retornarás.

Marcus Gomes é jornalista e advogado. Escreve sobre política, direito, condomínios e assuntos do dia a dia.

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