Com as bênçãos de Lula e Dilma e muito dinheiro federal, saiu da Prefeitura de Pinhais em 2012 com 93% de aprovação.

Luizão Goulart foi no começo dos 2000 uma esperança para o universo da política, despontando com qualidade no entorno petista (PT) de Pinhais, a vigorosa cidade da RM de Curitiba. Em 2008, se elegeria prefeito da cidade, pelo partido de Lula, cantando em prosa e verso o ideário petista, com todas as letras.
A reeleição, em 2012, com 93% de votos, não deixou dúvidas sobre a raridade que se impunha, um exemplário na vida nacional. Na eleição de 2018 para deputado federal teve 140 mil votos, o quarto lugar no Paraná.
PROFESSOR LUIZÃO
Naqueles dias dos dois mandatos, era conhecido simplesmente como “Professor Luizão”. Um nome com forte apelo e capacidade de aglutinação.
Tinha muitas obras para mostrar, transformou Pinhais em modelar cidade.
Tornou-se, então, um exemplar raro no combalido mundo político brasileiro, até porque soube retirar de Lula e seu governo – e depois muito de Dilma – todos os elementos que o ajudaram a ‘concretar’ uma administração eficiente.
Os então generosos cofres federais, sob chaves do PT, fizeram o possível e impossível para canonizar o prefeito que, sendo populista, não deixava, no entanto, de enfeixar raras qualidades de administrador público. E sem escândalos, o que fez Luizão transitar com facilidade nos meios nacionais de comunicação.

A ENTREVISTA
Hoje, 18-2-20, leio a entrevista que o agora simplesmente chamado de Luizão Goulart (Republicanos) dá ao blog Plural. Nela, nenhuma referência de agradecimentos – e muito menos de gratidão – ao petismo e aos seus antigos líderes, Lula e Dilma, peças essenciais que lubrificaram a capacidade de ação nata de um administrador público. Uma lubrificação com muito dinheiro federal, boa parte a fundo perdido, e que garantiu, por exemplo, que a cidade tenha todas as suas ruas asfaltadas. Nada de rua de saibro. E mais: que fizesse todas as obras essenciais de canalização do Rio Atuba dando um adeus às enchentes que por dezenas de anos martirizaram a cidade.
COERÊNCIA
O discurso de Luizão Goulart – em quem o site Plural acredita esconder-se um candidato muito competitivo à Prefeitura de Curitiba – mudou muito: nada de entonações à esquerda do ideário político, nos dias hoje. Pelo contrário: o ex-seminarista católico (segundo me contam amigos dele), agora se declara como de centro. “Nem de esquerda, nem de direita”, proclama.
Só não descobri se ele aderiu à Teologia da Prosperidade, identificadora do neopentecostalismo.
AUTODEFINIÇÃO
E para minha surpresa, o encontro agora no antigo PRB, hoje denominado Republicanos, partido político umbilicalmente identificado com a Igreja Universal e o bispo Edir Macedo.
Luizão diz que sua nova sigla nunca foi de extremos. O que contraria o histórico do PRB, muito identificado com o ideário de direita e com a caminhada do PSL de Bolsonaro, de que é claro exemplo o mandatário final do partido, bispo Edir Macedo, notável ponto de apoio ao governo federal de hoje.
SETE DE SETEMBRO
A festa do Sete de Setembro de 2019, em Brasília, mostrou o poder de Macedo, posando ao lado do presidente Bolsonaro. É o novo “poder religioso” entronizado no Planalto que elimina, definitivamente, as lembranças do catolicismo das “altas autoridades religiosas” compondo os retratos de cenários cívicos.
Ou, quem quiser ir além: Edir Macedo cívico faz lembrar uma “nova LEC”, aquela malfadada Liga Eleitoral Católica que com cardeal Leme era obrigatória ao lado de Getúlio Vargas e seus sucessores nos palanques e solenidades palacianas.

UMA ZEBRA ELEITORAL?
Posso até concordar com o site Plural, admitindo que Luizão tem muito para se tornar uma surpresa na eleição de outubro para prefeito em Curitiba. Só não tenho nenhuma dificuldade em prever que o Republicanos, num eventual segundo turno em que esteja Rafael Valdomiro Greca de Macedo, se unirá ao atual alcaide.
Afinal, hoje em dia Greca, embora proclamado devoto de Nossa Senhora da Luz, nunca deixou de paparicar a Igreja Universal do Reino de Deus. Lembram-se que em 2019 ele correu a entregar pessoalmente o alvará de funcionamento da Catedral da IURD, da Rua João Negrão, a Edir e seu clero? Tudo sob muitos salamaleques e expressões gongóricas do alcaide?
Tudo na medida certa de quem (Rafael) conseguiu convencer parte de Curitiba, fazendo seu discurso ornamental, que é um primor de ser culto e inteligente.