sábado, 5 outubro, 2024
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Luiz Gonzaga de Mattos, nas “saideiras” da noite sem fim

No antigo Curso Clássico (hoje ensino médio) havia ênfase muito forte em definições dadas por notáveis ao longo dos séculos. Em mim ficou para sempre a de Buffon – “o estilo é o homem”. E volta e meia, na minha juventude, recorri à expressão para acentuar alguma apreciação crítica, particularmente em literatura, sem esquecer da Política, e outras realidades, claro.

Hoje, ao trechos do “Memórias de um boêmio de Chinelos”, de Luiz Gonzaga de Mattos, desengavetei a sentença cravada por Buffon, naturalista e escritor francês do século 18. Não tenho dificuldades em classificar Buffon com o título “mais profundo”: foi etno- antropólogo cultural. A sentença de Buffon está na medida para se entender o jornalista curitibano-barriga verde Luiz Gonzaga de Mattos, que acaba de lançar seu livro “Memórias de um boêmio de chinelos”. Lê-lo é caminho para entender o autor.

Sem precisar de adjetivos, Gonzaga é auto-explicável a partir do olhar privilegiado com que vai fotografando um universo de intimidades e sintaxes da boêmia num espaço físico subsidiado por rara atmosfera de fraternidade. Algo no estilo “boêmia, aqui me tens de regresso…” João Marques, jornalista e presidente da Academia de Letras de Garanhuns, diretor de um jornal da cidade pernambucana, confirma em sua apreciação ao livro de Gonzaga, “Memórias de um boêmio de Chinelos”, quão fiel o autor mostra-se ao boêmio que nele vive, livre, leve, solto.

E que assim desfila num texto que fica entre o poético e/ou de fiel guardião de uma confraria que apenas a certos privilegiados é dado a compreender em toda sua extensão. Gonzaga é o generoso cidadão do mundo compromissado, com seu universo imediato. Mas capaz, ao mesmo tempo, de desfraldar bandeiras e teses “do mundo lá fora”, assim ampliando o círculo de fraternos encontros, pontilhados por ‘saideiras’ que se sucedem sem justificativas.

Assim como as repetitivas expansões de fraternidade ao mundo ao derredor, parte dele até recém-conhecido. Não importa, nessa atmosfera o tempo vem bordado por outras dimensões, os seres humanos são novos e renovados irmãos, sem barreiras sociais. Impera o onírico da noite desvelando sonhos e fantasias, projetos por vezes quiméricos, alimentadores dessa fauna humana especial.

O que posso dizer mais, senão recomendar ao leitor ganhe tempo,lendo “Memórias de um boêmio de chinelos”, clara oposição a um mundo de cultura “pop” da moda, e pela web e correlatas redes. O texto flui com a graça e a amplitude comunicativa de um repórter que domina o “comunicare” e o léxico que foram implantados por alguns totens dessa realidade, consistentes primeiros dentre esses pares, como Lupicínio Rodrigues, Chico Alves, Carlos Galhardo, Nelson Gonçalves.

(AMGH)

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