No antigo Curso Clássico (hoje ensino médio) havia ênfase muito forte em definições dadas por notáveis ao longo dos séculos. Em mim ficou para sempre a de Buffon – “o estilo é o homem”. E volta e meia, na minha juventude, recorri à expressão para acentuar alguma apreciação crítica, particularmente em literatura, sem esquecer da Política, e outras realidades, claro.
Hoje, ao trechos do “Memórias de um boêmio de Chinelos”, de Luiz Gonzaga de Mattos, desengavetei a sentença cravada por Buffon, naturalista e escritor francês do século 18. Não tenho dificuldades em classificar Buffon com o título “mais profundo”: foi etno- antropólogo cultural. A sentença de Buffon está na medida para se entender o jornalista curitibano-barriga verde Luiz Gonzaga de Mattos, que acaba de lançar seu livro “Memórias de um boêmio de chinelos”. Lê-lo é caminho para entender o autor.
Sem precisar de adjetivos, Gonzaga é auto-explicável a partir do olhar privilegiado com que vai fotografando um universo de intimidades e sintaxes da boêmia num espaço físico subsidiado por rara atmosfera de fraternidade. Algo no estilo “boêmia, aqui me tens de regresso…” João Marques, jornalista e presidente da Academia de Letras de Garanhuns, diretor de um jornal da cidade pernambucana, confirma em sua apreciação ao livro de Gonzaga, “Memórias de um boêmio de Chinelos”, quão fiel o autor mostra-se ao boêmio que nele vive, livre, leve, solto.
E que assim desfila num texto que fica entre o poético e/ou de fiel guardião de uma confraria que apenas a certos privilegiados é dado a compreender em toda sua extensão. Gonzaga é o generoso cidadão do mundo compromissado, com seu universo imediato. Mas capaz, ao mesmo tempo, de desfraldar bandeiras e teses “do mundo lá fora”, assim ampliando o círculo de fraternos encontros, pontilhados por ‘saideiras’ que se sucedem sem justificativas.
Assim como as repetitivas expansões de fraternidade ao mundo ao derredor, parte dele até recém-conhecido. Não importa, nessa atmosfera o tempo vem bordado por outras dimensões, os seres humanos são novos e renovados irmãos, sem barreiras sociais. Impera o onírico da noite desvelando sonhos e fantasias, projetos por vezes quiméricos, alimentadores dessa fauna humana especial.
O que posso dizer mais, senão recomendar ao leitor ganhe tempo,lendo “Memórias de um boêmio de chinelos”, clara oposição a um mundo de cultura “pop” da moda, e pela web e correlatas redes. O texto flui com a graça e a amplitude comunicativa de um repórter que domina o “comunicare” e o léxico que foram implantados por alguns totens dessa realidade, consistentes primeiros dentre esses pares, como Lupicínio Rodrigues, Chico Alves, Carlos Galhardo, Nelson Gonçalves.
(AMGH)