domingo, 7 setembro, 2025
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‘LA VIE EN ROSE’ (OU ‘EU, HEIN ROSA?’) DE LUIZ GERALDO MAZZA

Mazza e Aroldo
Mazza e Aroldo

Quem mais senão Luiz Geraldo Mazza seria capaz de ver no editorialista de “O Estado do Paraná” um discípulo peripatético de Sócrates? Quem mais senão Luiz Geraldo Mazza escreveria, nas entrelinhas de suas colunas, tão sisudas e pasmas, mensagens para a musa da vez? Quem mais senão Luiz Geraldo Mazza haveria de encantar-se pela juventude do jornalismo e temer pelo futuro dela? Quem mais senão ele, o Mazza, viveria tempos de deboche memorável em que nem mesmo o respeitável Francisco Cunha Pereira Filho seria poupado? Ele não gostava do apelido “Chico Beleza”. Pois bem, grafemos “Fran is Beautiful”. Quaquaquá.

Mazza, o jornalista, o radialista, o colunista, o homem de rádio, TV e jornal, foi o personagem, dia 30, do 11º do projeto “Encontros do Araguaia”, organizado por este jornalista, que resultará em livro sobre paranaenses “construtores do século 20”. Publicação prevista para meados de 2018.

Alguém já comparou a lista de entrevistados a um escrete. Nesse caso, ele seria o ponta-esquerda com muita honra.

VILLA LOBOS PASSOU

É preciso dizer, a modo de preâmbulo, que Mazza nasceu em 1931 em Paranaguá. Era o segundo filho de uma fieira de dez. Foi menino como todos eram naquela época, de correr atrás de bola e de agitar a preguiça. Em sua casa ele viu Villa Lobos passar. Não se trata de conto do vigário. Está nos registros históricos da cidade. O maestro esteve lá, conseguiu um ou dois empregos e compôs ali um concerto ou um noturno ou o que seja.

FIGURA DIABÓLICA

No umbral da porta da casa, havia uma figura diabólica. Mazza na cadeira de balanço via a figura balançar e a figura ia ganhando forma, ia ganhando medo. Consta que teve pesadelos depois e que, por conta daquele medo todo endiabrou-se com o Carnaval da cidade. Afinal, não é a festa momesca um contrato de quatro dias com o diabo?

NO PRINCÍPIO, ERA CRONISTA

O jornalista era, antes de tudo, um literato. Escrevia crônicas para “O Estado do Paraná” em seus primeiros dias de redação e deleitava-se porque seu salário era o mesmo do repórter que ganhava a rua miseravelmente em busca de notícias.

Naquele tempo, idos de 50, jornalistas eram formados em Direito, não em Comunicação Social, seja lá o que isso signifique. De qualquer forma, não se tem notícia de que Mazza tenha integrado um dia uma banca de advogados. Era jornalista e boêmio, e não necessariamente nessa ordem.

Do “Estado” foi para o “Diário do Paraná”, para a “Folha de Londrina”, para a “Gazeta”, para o Canal 6, o Canal 12 e para a CBN.

INCOMPATIBILIDADE GRAMATICAL

Chefe de reportagem na TV Paranaense, Canal 12, recebeu texto escrito a quatro mãos pelos donos da emissora. Ordem expressa: deveria ser lido na íntegra, sem reparos, no telejornal da noite. Tirou-lhe a pompa e os erros e mandou para o ar. Depois do programa, recebeu telefonema ruidoso. Era “Francis Beautiful”. Ele não admitia que lhe mexessem no texto. Mazza respondeu: “Doutor, incompatibilidade política, tudo bem, agora incompatibilidade gramatical, não dá”. E riu-se depois. Bem depois.

ELE PROFANA, PROFETIZA, PONTIFICA

Mazza ouve os discordantes com aquele silêncio respeitoso de um iluminista francês, mas jamais vota em seu favor. Se você quer encontrá-lo, procure uma roda de discussão na Boca Maldita, ou se esta já está esvaziada, trate de reservar lugar no balcão, à direita, fundos, do Bar Lusitano. É onde Mazza profana, é onde profetiza, é onde pontifica.

ROTINA ESPARTANA

Aos 86 anos, bem vividos, óbvio, ele cumpre uma rotina espartana. Segue para a CBN Curitiba onde comenta as notícias do dia. Um carro da emissora o apanha em casa. Depois, almoça e vai direto para a Folha de Londrina onde escreve coluna política.

Às 20h30 está em casa a tempo do boa-noite de Renata Vasconcelos (que se não encantou-lhe os olhos e os sentidos, é bom incluir na lista). No intervalo entre a Folha e o lar, faz ponto no Lusitano. A boemia faz parte de sua vida sem que lhe dedique a alma. Perguntam-lhe se é cristão. “Um cristão anárquico”. O que significa que faz lá suas orações devotas, mas jamais vai a templos.

CRISTÃO ANÁRQUICO

Seu cristianismo, na casa paterna, foi de absoluto sincretismo, com direito a encontro com fantasmas, espíritos de mortos, “realidade” alimentada pela família, especialmente em Paranaguá, onde nasceu.

Depois, no começo dos 1940s, os Mazza mudaram-se para Curitiba, foram morar na Rua Paula Gomes, esquina com Rua Mateus Leme.

Sobre os fantasmas, ele é enfático:

– Eu nunca vi nada. O que sei é que em matéria de religião o cardápio básico era católico com as suas múltiplas expressões sincréticas, preferentemente ao lado do kardecismo, explicou.

UM PASSO ATRÁS

Mazza não usa celular, odeia aberrações tecnológicas e guarda no bolso um prognóstico sombrio sobre o futuro do jornalismo. Acha que antes da profissão andar para frente, no caso da mídia digital, deve primeiro dar um passo atrás, recuperando o prazer da leitura. Palavra do mestre.

Ouviram-lhe os discípulos Aroldo Murá G.Haygert, Dante Mendonça, Maí Nascimento Mendonça, Marcus Vinicius Gomes, Vinícius Sgarbe, Gladimir Nascimento, Giselle Hishida, André Nunes e Annelize Tozetto.

O depoimento foi colhido em vídeo por Sgarbe e as fotos são de Annelize.

Luiz Geraldo Mazza cercado por jornalistas diversas idades: (E) Marcus Vinicius Gomes, Gisele Hishida, Gladimir Nascimento, Maí e Dante Mendonça, Aroldo, André Nunes, Vinícius Sgarbe.
Luiz Geraldo Mazza cercado por jornalistas diversas idades: (E) Marcus Vinicius Gomes, Gisele Hishida, Gladimir Nascimento, Maí e Dante Mendonça, Aroldo, André Nunes, Vinícius Sgarbe.
Luiz Geraldo Mazza num “transe” reconstrutor de histórias
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Geral da entrevista.
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Mazza e o grupo de entrevistadores: Aroldo, Vinicius Sgarbe, Gisele Hishida, Gladimir Nascimento, Maí Nascimento Mendonça, Dante Mendonça e Marcus Vinícius Gomes.
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Gisele, Gladimir, Maí, Dante.
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Mazza, “profético” e memorialista
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