Por Daniel Zanella, editor do Jornal RelevO – Em 2 de setembro de 2025, o RelevO completará 15 anos de vida. Isso equivale a 5.478 dias exatos de insistência, invenção, tropeços e recomeços dentro de formas diferentes de fazer. Para um jornal independente de literatura, cada dia é um pequeno dado jogado a um destino incerto: sobreviver em meio ao mercado editorial brasileiro, onde fazer literatura nunca foi tarefa simples, sobreviver em meio à indiferença que atravessa o ato de ler. Bem, um certo ato de teimosia (Seja um assinante do RelevO).
E pensar que tudo começou com um jornal de oito páginas, mil exemplares e apenas três pontos de distribuição em Araucária e Curitiba, basicamente nos corredores da Universidade Positivo. Eu era estudante e queria ter um jornal para chamar de meu. Sabia diagramar um pouco e conhecia gente que escrevia. Era pouco, mas era o que tinha. Era, sobretudo, o que se podia fazer: juntar palavras, imprimir o que desse com 300 reais de orçamento, acreditar que alguém gostaria de ler. O RelevO foi um gesto nascido do desejo de imprimir literatura por quem gosta de ler para quem gosta de ler. As demais interpretações sempre soaram-me exageros. Hoje, olhando para trás, entendo que aquela simplicidade não foi um acidente — foi a marca que nunca abandonaria nossa trajetória.
Afinal, o que segue como aquilo que chamamos de RelevO? Seguimos como um modesto jornal de papel com textos de literatura, um projeto simples que atravessou as transformações de diferentes ecossistemas da comunicação fazendo exatamente o que fez desde a primeira edição: publicar de maneira impressa. É a circulação de erros e acertos, de fracassos que ensinaram e de descobertas que nos deram fôlego. Já fomos chamados de velhos, já nos chamaram de anacrônicos, já nos mandaram ser digitais — e ainda mandam. Contudo, longe de nós aproveitar uma efeméride com qualquer indício de rancor. Talvez a maior graça de tudo esteja justamente nisso: resistir à obviedade de dar errado. Sempre, ao nosso modo, duvidamos das fórmulas prontas dos novos arautos tecnológicos. Insistimos que o papel não morreu porque, enfim, o formato tem suas vantagens e desvantagens (como qualquer coisa na vida). Melhor ainda: insistimos que o papel pode ser uma alternativa, que ler pode ser uma alternativa, que pode ser uma companhia.

Quinze anos também são feitos de repetições. Um jornal só existe porque se repete. A cada mês, o ciclo recomeça: pensar, editar, revisar, imprimir, distribuir. Assim foram quinze anos, assim podemos definir nossos últimos 15 meses, os próximos 15 dias, os atuais 15 minutos. O RelevO é a continuidade de cada dia em que abrimos o e-mail; conferimos notificações nas redes sociais; verificamos quem mandou texto novo; atrasamos devolutivas de quem mandou texto novo… Somos a soma em série de instantes cujo resultado é algo que compila o intervalo de 30 dias: o tempo lento da página impressa e o tempo rápido da leitura de quem a recebe. É ritmo, é repetição, é a mesma ação refeita 197 vezes com a mera diferença que somente a personalidade de cada mês sabe acrescentar.
Talvez essa seja a única lição de 15 anos: compreender que não há permanência sem repetição. Somos um jornal que insiste em existir de novo. Muito obrigado a todos que fizeram parte desta trajetória, aos mais de 1000 assinantes atuais, aos 20 projetos que anunciam conosco, aos mais de 4 mil ex-assinantes que, em algum momento dessa jornada, também estiverem conosco. A casa está sempre de portas abertas. A nossa ideia de infinito se cruza com o ato cotidiano de acordar.
Com amor,
Daniel Zanella