Por Zélia Maria Nascimento Sell
Eu sempre lembrarei com muito carinho do professor Aroldo Murá Heygert. Ele me proporcionou o primeiro estágio em Jornalismo nos anos 1970 no jornal – hoje extinto – Diário do Paraná. Éramos raras mulheres em uma redação predominantemente masculina e saíamos no início da tarde com pautas a cumprir na mesma Kombi que de madrugada distribuiria os jornais nas bancas.
Lembro que não tinha bancos e a porta era amarrada com uma cordinha . A cada curva nos desequilibrávamos junto com os fotográfos e seus equipamentos. No meio da tarde voltávamos à redação com as entrevistas (anotadas em um bloquinho) e passávamos tudo nas laudas colocadas nas velhas máquinas que faziam aquele som barulhento característico das redações. Tinha também os sons dos teletipos.
Eu cobria Saúde e Abastecimento, entrevistava o Tocafundo na Sunab e o Schmit na Saúde. Mas o chefe da redação da época implicava comigo. Olhava bem nos meus olhos e rasgava minhas matérias. Certo dia telefonei chorando para o professor Aroldo: “Não aguento mais, seu afilhado me persegue!”. “Zélia, jornalista não chora, jornalista luta para que suas matérias sejam publicadas!”, disse-me ele. E comecei a lutar, até que ganhei uma página inteira,chamada “gráfica”, com muitas fotos no final do jornal. “Destrinchava” um assunto,como por exemplo, a construção da catedral de Curitiba, os irmãos Garbaccio, etc…
Mal sabia que mais tarde este gosto pela história seria fundamental na criação de meu programa radiofônico… Os anos se passaram, casei, tive filhos (dois jornalistas), mas continuamos conectados e ele sempre me prestigiou em sua coluna, especialmente quando lancei o livro “Altdeutschen” sobre os ancestrais Grein de Rio Negro (PR), que ele adorou!
Estou fora de Curitiba quando recebo a triste notícia de sua morte, e afirmo com convicção: o professor Aroldo foi o Pelé do Jornalismo. E certamente, Deus o recebeu em sua glória com um bloquinho nas mãos para anotar todas as suas façanhas!