quarta-feira, 15 janeiro, 2025
HomeMemorialHistórias de Curitiba, a "Vermelha"

Histórias de Curitiba, a “Vermelha”

Fernando Miranda
Fernando Miranda

Enquanto, em muitas redações, antigos profissionais da imprensa tendem a ser substituídos por recém-formados, o advogado Fernando Miranda rememorava com amigos, na data dos 50 anos do movimento de 31 de março/1º. de abril, seu esforço frustrado para prestigiar jornalistas de larga experiência.

Embora muitos desconheçam, o conhecido advogado, especialista em questões de comércio exterior, também foi jornalista. Sua iniciação como “foca”, ocorreu no matutino “O Dia”, um dos mais importantes jornais do Paraná, que deixou de circular em 1960.

Formado em Direito, ganhou bolsa para estudar na Europa, onde se tornou uma espécie de “correspondente internacional” da “Gazeta do Povo”. Posteriormente, nos Estados Unidos, fez a cobertura do Concurso Miss Universo para o jornal curitibano.

Recrutanto talentos

De volta à pátria, Miranda recebeu uma incumbência do “doutor Francisco” da Cunha Pereira: “levantar” a qualidade do vespertino “Diário da Tarde”, até então uma espécie de “irmãozinho pobre” da “Gazeta”. Miranda optou por contratar novos repórteres, redatores e colunistas, que haviam ficado sem emprego quando a edição regional do jornal “Última Hora” foi desativada.

O vetusto “Diário da Tarde” ganhou de imediato nova fisionomia, porém a nova fase durou pouco tempo. Por terem trabalhado em jornal pertencente a Samuel Wainer, arqui-inimigo de Carlos Lacerda e defensor de Getúlio e Jango, os integrantes da equipe arregimentada por Miranda eram vistos como subversivos em potencial pelo sistema repressivo que se instaurara no país.

Durante algum tempo doutor Francisco e Miranda tentaram resistir à pressão, mas, diante do ultimato que receberam, todo “pessoal vermelho” recebeu “bilhete azul”.

Curitiba, a “vermelha”

Embora com um perfil político reconhecidamente conservador, Curitiba já foi conhecida como “a Vermelha” no início do século XX, lembrou um dos interlocutores de Miranda. Foi logo após a Primeira Guerra Mundial, quando as repercussões da Revolução Bolchevique chegaram à Capital das Araucárias. Um forte movimento anticlerical e maçônico, paralelamente, era capitaneado pelos grandes intelectuais da época, como Dario Vellozo.

Outros intelectuais, ligados à Igreja Católica, entraram na liça, com debates acalorados. Num assomo retórico, o padre Eurípides Olímpio de Oliveira e Souza, colega de Dario na docência no “Gymnasium Paranaense” (atual Colégio Estadual do Paraná”) não teve dúvidas em clamar, a alto e bom som, contra os “bolchévicos, pedreiristas e rotários”. Referia-se aos comunistas e maçons e – sabe-se lá por que – aos rotarianos.

Assis Chateaubriand, o "Chatô"
Assis Chateaubriand, o “Chatô”

A “Pequena Moscou” de Chatô

Em 1963, observou outro participante da conversa, jornalistas e gráficos entraram em greve em Curitiba. Dos grandes jornais da época, só o “Diário do Paraná”, dirigido por Aderbal Stresser, insistiu em circular. Jornalistas e gráficos deitaram-se na rua, diante dos caminhões que fariam a entrega dos jornais, impedindo que prosseguissem. Stresser comunicou o fato ao todo poderoso magnata dos “Diários Associados”, Assis Chateaubriand. Irado, Chatô escreveu um editorial violento, publicado por todos os veículos pertencentes à cadeia associada, onde levava a crer que uma revolução comunista assolava Curitiba, apresentada como uma pequena Moscou. Muitos curitibanos, com parentes residentes no Rio e S. Paulo, receberam aflitos telefonemas de familiares que costumava ler os editoriais de Chatô. “E não foi fácil tranquilizá-los” rememora o narrador do caso.

Leia Também

Leia Também