
Por Eloi Zanetti
Esses dias, assisti ao filme turco Mucize – considerado um dos dez melhores da Netflix – que conta a história de um professor nomeado para lecionar em uma aldeia distante e, ao chegar lá, não encontra escola para ministrar suas aulas. Comovido com a recepção esperançosa do chefe da aldeia e do carinho das crianças, ávidas por aprender a ler e a escrever, promove a construção do prédio. Imediatamente fiz a ilação com uma história real e parecida com esse enredo. Foi ao conhecer o senhor Said Mohamed El-Khatib quando eu trabalhava na Umuarama – agência de propaganda do Bamerindus. Batemos um bom papo e fiquei admirado com a simpatia e as ações culturais promovidas por ele.
Said Mohamad El-Khatib (1928) – nasceu no Líbano e, com 13 anos, para poder viajar sozinho, aumentou a sua idade na certidão de nascimento – 18 anos – para isso teve a aquiescência do prefeito da sua aldeia. No Brasil, em Santos, trabalhou como mascate na loja de um patrício. Economizou dinheiro e foi se estabelecer no bairro da Prata em Araçatuba. Lá montou uma loja e mais tarde uma pequena beneficiadora de café. Como no local não havia escola para ensinar os filhos dos seus funcionários e não podia contar com a boa vontade das autoridades locais, construiu ele mesmo uma sala de aula nos fundos da sua residência contratando uma professora que pagava do seu próprio bolso.

Em 1949 voltou ao Líbano e viu que na sua aldeia natal também não havia escola. Moveu mundos e fundos, falou até com o Ministro da Educação e, não sendo atendido, construiu outra com o seu próprio dinheiro. Em 1951 voltou ao Brasil, desta vez para Curitiba, onde construiu mais uma escola ao lado da sociedade Muçulmana. Said não entendia como em um lugar cheio de crianças não havia escola.
Abrir bibliotecas e escolas
e editar livros é como
plantar boas sementes
para a humanidade
Homem culto, interessado em educação, montou também uma distribuidora de livros cuja venda se processava no sistema porta-a-porta. Com o sucesso, montou a editora Grafipar e, ajudado por seus filhos Faissal e Faruk, editou, com textos de dezenas de professores, pesquisadores e estudiosos, a coleção História do Paraná e História de Santa Catarina. Além de outras edições, lançou também a História da Civilização Árabe e o Dicionário Cultural da Língua Portuguesa – trabalho que encomendou ao professor e filólogo Rosário Mansur Gueiros.

Seu filho caçula Faruk El-Khatib seguiu seus passos e fez sucesso com a Passarola, revista que circulava nos aviões da Varig. Lançou também dezenas de publicações como histórias em quadrinhos, mangás, passatempos e as revistas eróticas como a Peteca e a Penthouse – concorrentes da Playboy na época. Terminada essa onda, hoje, sua editora, a Fama, publica edições de cunho educacional, formação profissional e livros de receitas culinárias. Faruk conta essa segunda fase da editora da família em um livro lançado recentemente – De Porta em Porta em Nova York.

