quinta-feira, 20 novembro, 2025
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Hepatite misteriosa: cresce suspeita de elo com a Covid

Amostra de sangue é exibida em exame nos EUA. Casos do último mês não foram causados por nenhum tipo conhecido do vírus da hepatite. Foto: Simon Dawson/Pool via REUTERS

Estadão

Um tipo misterioso de hepatite aguda tem despertado a atenção de autoridades de saúde de diferentes países do mundo ao longo das últimas semanas. A doença, que atinge crianças e já é investigada inclusive no Brasil, não é ocasionada por nenhum dos vírus conhecidos da hepatite (A, B, C, D e E) e pode ter entre as suas causas uma relação ainda não esclarecida entre a covid-19 e um tipo de adenovírus.

A Organização Mundial da Saúde (OMS) registrou até esta semana 348 casos da doença. A maioria das crianças apresentou sintomas gastrointestinais, icterícia e, em alguns casos, falência aguda do fígado e morte. O Ministério da Saúde criou uma sala de situação para monitorar os 41 eventos suspeitos de hepatite aguda infantil de origem desconhecida registrados até agora em território nacional. Um adolescente precisou passar por um transplante no sertão pernambucano na sexta-feira, 20, e o caso está sob investigação.

REINO UNIDO

A primeira hipótese foi levantada por autoridades de saúde do Reino Unido. Lá, os primeiros casos foram registrados e tratava-se de uma hepatite causada por um adenovírus. Estudos mostraram que até 70% dos doentes testaram positivo para o adenovírus 41F. Ele afeta mais crianças, jovens e pessoas imunossuprimidas. Provoca resfriado ou problemas intestinais.

“Inicialmente achou-se que o adenovírus seria a causa das hepatites agudas,  mas o fato é que ele não aparecia em todos os casos”, explicou o infectologista Marcelo Simão, da Universidade Federal de Uberlândia, em Minas. “Em muitas crianças que apresentaram quadros graves não foi possível isolar o vírus; e em algumas na qual foi feito um transplante não se achou o vírus no fígado retirado.”

Especialistas notaram também que muitas crianças tinham tido covid-19 antes da hepatite aguda. Um estudo publicado na “Lancet” na semana passada propôs, então, nova hipótese. Segundo o trabalho, uma combinação entre as duas infecções estaria provocando a doença hepática aguda.

Partículas remanescentes do Sars-CoV-2 no trato intestinal das crianças estariam servindo de gatilho para uma reação exagerada no sistema imunológico a uma infecção posterior pelo adenovírus 41F.  A proteína spike do coronavírus é considerada um superantígeno. Ela torna o sistema imunológico mais sensível. Potencializaria o efeito do adenovírus 41F. Normalmente, esse vírus não provoca problemas mais graves.

Leia mais na reportagem do Estadão

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