O assunto está na ordem do dia: o golpe (ou revolução anticomunista) de 1964 está fazendo 60 anos em 31 deste mês. Inúmeras produções acadêmicas e jornalísticas abordam o aniversariante movimento militar, ou ditadura militar, como queiram.
Entre intelectuais de real grandeza que têm abordado a questão, está o historiador Marco Antonio Villa, da Universidade de São Carlos. Ele publicou um livro, que está nas livrarias, sobre o tema, procurando mostrar o movimento ditatorial de 64 além de estereótipos.
Em Curitiba, o desembargador do TJPR, Antenor Demeterco Júnior, um estudioso de História, especialmente a do Brasil de nossos dias, não deixa passar nada despercebido. Por isso, mandou ao jornal Folha de São Paulo, a seguinte carta, a propósito de recente matéria da FSP sobre o assunto:
“À Folha de SP. Curitiba, 26/03/2014.
Lendo a entrevista do ex-Ministro do Supremo Tribunal Federal, Célio Borja, publicada em 25 de março, deve-se concluir que os acontecimentos de 1964 ainda esperam um enfoque de historiadores sérios.
A opinião do entrevistado, afirmando que o presidente João Goulart preparava um golpe, encontra apoio nas memórias do insuspeito Samuel Wainer, ícone do jornalismo de esquerda brasileiro.
Foi este o jornalista brasileiro que, entre outras atuações históricas, cobriu os julgamentos de Nuremberg e a condenação dos nazistas que sobreviveram à guerra.
Samuel afirma categoricamente ter percebido que círculos mais ligados ao governo tramavam o golpe (cf. “Minha Razão de Viver”, p. 322).
Ligado intimamente a Goulart, confessa ter participado de acertos e fraudes com empreiteiros de obras públicas, indivíduos que acabaram patrocinando comícios, inclusive aquele de 13 de março de 1964 (cf. p.307).
A provocação aos generais foi, na realidade, financiada pela corrupção, segundo fatos narrados por Samuel.
Golpe ou contragolpe, 1964 está a merecer esclarecimentos, lado a lado das críticas de suas vítimas. Cordialmente, Antenor Demeterco Junior.”