Ainda não tenho definida a data em que encerrarei minha série de análises denominada “Lei das Religiões nasce para agradar às igrejas da moda”, em que examino como a fé religiosa serve de apoio aos senhores da política.
Ou, como a política e a religião têm andado juntas na História do Brasil, desde a instituição do regime do Padroado, que garantia todos os recursos materiais à Igreja Católica, a partir do Brasil Colônia.
Creio que posso esperar: há muito ainda a ser registrado até o final do segundo turno das eleições. Um dos motivos para a espera pode ser a entrada, para valer, da ex-ministra Mariana Silva no páreo presidencial; essa entrada tornou mais visível ainda essa relação, pois a candidata do PSB é a encarnação de um certo tipo de crente evangélico que muitos interesses desperta em tempos eleitorais.
2 – UM AMPLO CARDÁPIO DE IGREJAS
Mas não é apenas esse tipo de crente de igreja fundamentalista que interessa aos políticos.
Por exemplo, nesse final de semana, estava prevista a presença, em Curitiba, do ministro da Secretaria Geral da Presidência, Gilberto de Carvalho, para encontro, no sábado, 20, com representantes de 150 denominações evangélicas do Paraná.
E do ‘pacote evangélico’ com que se defrontaria Carvalho tem de tudo: desde igrejas neopentecostais, a pentecostais históricas (como a Assembleia de Deus) às chamadas simplesmente de “protestantes tradicionais”, como as igrejas Luterana Sinodal, Metodista do Brasil, Presbiteriana do Brasil, Presbiteriana Independente do Brasil, Congregacional, Anglicana…
O encontro estava agendado para um hotel da Avenida Sete de Setembro, com espaço suficiente para acolher pastores, obreiros, observadores e partidários das candidaturas Gleise e Dilma. Tudo isso como parte do grande esforço que o PT decretou para, especialmente, salvar a candidatura da presidente, que vinha rolando ladeira a baixo.
A vinda de Gilberto Carvalho, paranaense do Norte do Estado que fez estudos universitários em Curitiba, boa parte deles no seminário dos Padres Palotinos (localizado no Cajuru), anos 1970/80, apenas confirma o que se sabe: ele é um especialista em diálogo religioso dentro do Governo federal. Tem amplo trânsito na CNBB, onde cultiva grandes e velhas amizades, uma delas, o padre Ernane Pinheiro, coordenador político daquela conferência de bispos católicos.
Mas Gilberto é bem aceito como interlocutor também de igrejas evangélicas e Governo Federal, há muito tempo, desde os governos Lula.
3 – NO PALÁCIO, PADRES E RICHA
O mundo católico também interessa muito às legendas partidárias. Na terça-feira, por exemplo, o pessoal da campanha de Beto Richa ao Governo conseguiu bom feito: o governador reuniu para almoço, no Palácio Iguaçu, o administrador da Arquidiocese de Curitiba (e provável futuro arcebispo) Rafael Biernasky, e padres de muita expressão da área arquidiocesana.
À mesa principal, com o governador Richa e Fernanda Richa, sentaram, além de dom Rafael, os padres Kleina e Reginaldo Manzotti, assim como José Aparecido (tido como o mais forte nome para ocupar a posição de futuro vigário geral da Arquidiocese).
Nas outras mesas espalharam-se dezenas de outros padres que são párocos, vigários, professores, dirigentes de instituições católicas.
4 – CARTAS DE APOIO?
No ágape, não houve discursos de campanha, é claro. O pretexto do encontro foi de confraternização com o clero e com dom Rafael.
Mas mesmo assim há quem jure ter visto, em certas mesas, alguns padres assinando cartas-manifesto de apoio à reeleição de Beto.
Apenas rumores, nada comprovado, é claro.
Mesmo porque, acredita-se, padres não deverão repetir erros que tanto condenam em pastores, como os de fazerem o papel de cabos eleitorais.
Ainda do universo eleitoral em busca de bênçãos celestes católicas: no dia 27 de agosto, o prefeito Gustavo Fruet levou Gleise Hoffmann para encontro, na Cúria Metropolitana, com o bispo dom Rafael Biernasky.
Por uma hora, os três abordaram temas políticos e administrativos. “Jamais partidários”, diz uma fonte da Arquidiocese.