
A expressão foi cunhada por George Orwell em ‘1984’ – um livro cada vez mais premonitório: “Thinkpol” que, na expressão abreviada em inglês, significa Polícia do Pensamento. Foi o que se viu no último fim de semana. A exposição “Queermuseu – Cartografias da Diferença na Arte Brasileira” foi fechada com um mês de antecedência pelo Santander Cultural, em Porto Alegre, depois que virou alvo de críticas de grupos como o MBL (Movimento Brasil Livre).
Nas redes sociais, onde propagou as críticas à mostra que incluía obras de Volpi e Cândido Portinari, o MBL comemorou: “foi uma vitória da pressão popular”. É difícil definir “pressão popular”. Talvez com ajuda da novilíngua de Orwell. “PopPress”?
DIREITA, VOLVER
É o autoritarismo e o estado policialesco que o escritor inglês quis expressar. O pior dos mundos e esse mundo não tem lado. Se você abominava o exagero da esquerda em condenar ao índex qualquer obra que emanasse racismo, homofobia ou “apropriação” cultural, eis a direita apresentando seu cartão de visita.
“Cenas de pedofilia, zoofilia, sacanagem e ofensa a Cristo, como as exibidas nos quadros são uma “vergonha aos gaúchos”, define o MBL do Rio Grande do Sul. No último sábado (9), militantes do movimento visitaram o centro cultural e gravaram vídeo execrando a mostra. O vídeo teve 400 mil visualizações e foi o bastante para que o Santander fechasse as portas da exposição e divulgasse nota com “pedido de desculpas”.
A ARTE DEGENERADA DO NAZISMO
Há um paralelo inevitável entre o que ocorreu na mostra “Queermuseu”, que tinha como propósito festejar a diversidade”, e na exposição “Arte Degenerada”, em julho de 1937 – há 80 anos, portanto – no museu de Munique, na Alemanha nazista. A mostra foi apenas o começo de um movimento que tirou cerca de 20 mil obras de 140 artistas de cem museus e galerias do país. Dois anos depois, 1.004 quadros e 3.825 imagens foram jogados à fogueira em Berlim.
Orwell escreveu “1984” no apagar das luzes da II Guerra Mundial, presenciando a ascensão e queda do nazismo. Contudo, a inspiração para sua obra mirou em outro totalitarismo, o de esquerda, que classificava a arte e os artistas segundo a cartilha do realismo socialista. Tudo o que não obedecia a esse ditame tinha destino certo: o fogo e a cinza para as obras, o gelo da Sibéria e a morte para aqueles que as produziam. Assim caminha o MBL.