Por André Nunes – Chega ao fim neste domingo (6) a 33ª edição do Festival de Curitiba. Em meio a tantas emoções vividas por quem trabalhou, cobriu e assistiu o Festival, não podemos esquecer o nosso querido colega Cristiano Freitas, o Cris, que foi tirado do nosso convívio de forma brutal. Ainda é difícil acreditar, mas o show precisou continuar, e seguimos o trabalho na equipe de assessoria de imprensa do Festival.
Além de saudar o Cris Freitas com a publicação de seus textos – escritos com entusiasmo antecipadamente, ao longo do mês de fevereiro, quando estávamos em home office antes do Festival começar – fica aqui mais um registro do ser humano e profissional incrível que ele foi. E do legado que deixou para centenas de jovens que começaram no jornalismo com ele. Muita luz para você, Cris!
E uma saudação especial ao nosso time, comandado pelo Max Santos: Adriane Perin, Dani Brito, Sandro Moser, Sandoval Matheus, Luciana Penante, Pedro Neves, Thiago Lucas, Felipe Almeida, Diogo Bueno e Pretha Almeida.
A seguir, o último texto escrito por Cris Freitas para o Festival de Curitiba:

“Estou Bem Aqui e Lembrei de Você”: um dos 41 espetáculos de rua da Mostra Fringe promove um audiotour no coração da capital
Por Cristiano Luiz Freitas – Sem dúvida alguma, os espetáculos de rua são a marca registrada da Mostra Fringe. No 33º Festival de Curitiba, as 35 montagens previstas vão ocupar nove praças em Curitiba e na Região Metropolitana. Além da capital, o roteiro inclui Campina Grande Sul, Campo Largo e São José dos Pinhais. Todas as apresentações são gratuitas.
Nesta edição, um dos destaques é “Estou Bem Aqui e Lembrei de Você”, do Em Bando Coletivo, de Santos, litoral de São Paulo, que promete surpreender o público com um audiotour. As apresentações estão programadas para os dias 27 (16h), 28 (19h) e 29 (16h) de março na Praça Generoso Marques. “Faz algum tempo que tínhamos o desejo de criar um audiotour. Uma das nossas referências e influências em artes é Janet Cardiff, artista canadense pioneira nessa modalidade de criação, conhecida por uma série de percursos sonoros desenvolvidos entre 1991 e 2010. Outra grande referência para nós é o Coletivo Teatro Dodecafônico, grupo sediado em São Paulo, que também possui pesquisas de audiotour e caminhadas”, comenta Marcus Di Bello, diretor do espetáculo. Ele assina a dramaturgia com João Lírio.
A peça, que estreou em Santos no segundo semestre de 2024, é fruto de experiências pessoais dos dramaturgos com suas avós para a criação de uma ficção. Com isso surgiu a personagem “neta”, que tem uma avó que sempre gostou muito de viajar e que mandava cartões-postais para ela dos lugares que visitava. “A peça começa nesse ponto: a neta compartilha o último cartão-postal que a avó mandou. Em Curitiba, será da Praça Generoso Marques. Daí, faz o convite para que as pessoas refaçam os últimos passos da avó pela cidade com ela. A neta narra sua própria história, trazendo memórias da infância, da relação que ela e sua avó construíram na cidade. O público ouve as memórias e reflete sobre as suas próprias histórias enquanto atravessa o espaço urbano. É como um filme em que o áudio já está gravado, mas quem cria os enquadramentos é o próprio público. A cidade, com seu movimento cotidiano, se transforma em poesia a partir dos recortes que os participantes fazem ao longo do trajeto”, completa Marcus Di Bello.

Na montagem, o áudio evoca memórias e reflexões que se entrelaçam com o próprio caminhar. “O espetáculo é uma oportunidade única para o público vivenciar a cidade de maneira poética, explorando seus ritmos, suas texturas e suas histórias. É também uma maneira de pensar sobre as relações humanas e sobre o seu lugar dentro da correria do dia a dia”, reitera Bello.
O grupo Em Bando Coletivo costuma falar que existem dois espetáculos. “Um espetáculo é aquele em que o público está ouvindo e vivenciando. Outro espetáculo é aquele em que os usuários da cidade, que não estão fazendo a prática, observam. Um grupo de pessoas ouvindo fones de ouvido e atravessando a cidade interfere na lógica urbana. Essa intervenção também desperta olhares curiosos de quem passa ao redor. O teatro e a vida caminhando de mãos dadas, quase que sem fronteiras de quando um começa e o outro termina”, avalia Marcus Di Bello.
Fones de ouvido e celular carregado
Em Curitiba, a equipe do Em Bando Coletivo pede para que o público leve os próprios celulares e fones de ouvido. “Antes de começar a peça, nós vamos transferir o áudio para cada um dos participantes, fazer testes e entregar uma ecobag com envelopes que serão abertos durante o espetáculo. Depois de uma breve explicação de como funcionará a prática, todos dão play ao mesmo tempo para iniciarmos o espetáculo”, avisa Marcus. Para cada sessão, o grupo disponibiliza 20 kits. Cada um deles pode ser usado por uma ou duas pessoas. Assim, no máximo 40 pessoas serão atendidas por sessão.
As reações ao espetáculo são variadas. “As pessoas costumam pensar em suas avós e criar relações das suas próprias histórias com as memórias que ouvem no áudio. Em uma das apresentações que fizemos dentro do Festival Santista de Teatro, tivemos uma participante que relatou que morava em uma cidade vizinha, mas que sempre ia para Santos para se conectar com lembranças da sua bisavó, que a criou durante a infância. Ela disse que a cada passo que dava durante o trajeto lembrava da bisavó. Era como se ouvisse a própria história sendo narrada”, destaca Marcus Di Bello.

Em 2024, o Em Bando Coletivo trouxe à Mostra Fringe a performance “Em Risco”. “Era uma deriva pela cidade em que o público se perdia com a gente pelas ruas, enquanto realizava tarefas de intervenção urbana. Foi muito especial a nossa participação no ano passado, pudemos conhecer muitas pessoas queridas e acompanhar diferentes produções cênicas”, recorda o artista.
Para a trupe, participar do evento é uma oportunidade única. “Gostamos de participar do festival, pois é sempre muito rico o intercâmbio com artistas de Curitiba e de outros lugares do país. Essa rede entre os trabalhadores da cultura é muito importante, além da oportunidade da nossa pesquisa chegar a novos públicos”, finaliza Marcus Di Bello.
A Mostra Fringe no Festival de Curitiba é apresentada por Petrobras, Sanepar – Governo do Estado do Paraná, Prefeitura de Curitiba e CAIXA Cultural, com patrocínio de Copel – Pura Energia, ClearCorrect – Neodent, SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas, Viaje Paraná – Governo do Estado do Paraná, CNH Capital – New Holland e EBANX, e realização do Ministério da Cultura, Governo Federal – Brasil União e Reconstrução.