Marilia Mesquita – Pensei muito sobre tudo o que aconteceu com Juliana Marins. Além da angústia em saber que ela estava sozinha naquele penhasco, muitas perguntas eu me fazia: “Como ela se sente? Quais os sentimentos e pensamentos?, Em quem ela pensa com amor?, Do que ela sente saudade?, Ela está com medo?”.
Durante a correria do dia, aparecia Juliana. Na TV, nos sites de notícias, nas redes sociais. “Brasileira caiu em penhasco durante trilha no vulcão Rinjani, em Lombok, na Indonésia”. Uma avalanche de informações que, mesmo que eu quisesse, não poderia esquecê-la.
Tentei me colocar no lugar dela, sem sucesso. Sempre digo que, para morrer, basta estar vivo. Essa é a única certeza que temos em toda nossa existência. Um dia será o nosso último dia. Será que isso passou pela mente dela em algum momento?
Acredito que muitas pessoas se identificaram com Juliana. Uma mulher jovem, corajosa, com sede de viver experiências únicas. Conhecer o mundo e tudo que ele tem a nos oferecer. “Ah, Juliana! Como você inspirou e continua a inspirar”.
Viver exige coragem! Coragem para suportar as dificuldades e continuar. Coragem para amar sem saber se será amado, para estender a mão a quem precisa, para enfrentar as injustiças e não ficar calado, para sorrir quando a vontade é de chorar, para ser gentil quando sua vida está um caos, para abrir mão de tudo e seguir seu sonho. É! Viver é muito mais do que apenas estar aqui, nesse plano.
Ter o espírito livre nem sempre é fácil. Somos questionadas o tempo todo. Os “por ques” são inúmeros… “Por que não arruma um namorado? Por que não casa? Por que não tem filho? Por que foi? Por que não foi? Por que isso? Por que aquilo?”. Mas por que?
Toda vez que uma mulher é vítima, seja de violência, de um acidente ou de negligência, nos deparamos com mais algumas dezenas de perguntas. “Por que foi sozinha?”, “Pra que se arriscar?”, “Precisava sair de mini saia?”, “Isso é hora e lugar para mulher estar?”
Nós, mulheres, só queremos viver. Viver intensamente nossos sonhos. Viver a vida que nos cabe. Viver nossos amores e nossas dores. Sentir o vento no rosto e o calor do sol. Conhecer novos lugares, novas pessoas, novas culturas. E isso, meus caros, não exige companhia, nem da aprovação de ninguém. O que precisamos, e com urgência, é de segurança e a certeza que voltaremos vivas.
Não vou entrar no mérito dos riscos de escalar um vulcão na Indonésia (mesmo porque estamos em risco o tempo todo) e nem sobre a negligência do guia turístico e da administração do parque. Isso toda a mídia já falou. Acredito que Juliana mereça mais. Ela foi muito mais.
Perfis no Instagram com publicações diziam “Não faça coisas de morrer”, “Não voe de balão”, “Não escale um vulcão”. Eu digo: FAÇA! Faça o que seu coração pede insistentemente. Faça o que você tem vontade. Viva sua vida da forma que entender certo. Seja o que você quiser ser. Afinal, viver com medo pode ser a sua maior prisão.
Acredito que o sentido de estarmos aqui é fazer o bem ao próximo. É dar os abraços mais quentes nos dias nublados e chuvosos. Deitar na areia da praia e sentir a brisa do mar. É não se apegar a idade para fazer algo novo. É não evitar o amor e nem a dor. É descobrir prazeres, paisagens, sabores, sentimentos. É ter seu propósito e vivê-lo. E isso custa caro. Nem sempre seremos apoiadas ou compreendidas.
Juliana escolheu viver intensamente, mesmo num mundo tão cruel para as mulheres. Ela arriscou, se jogou, mas se amou acima de tudo quando decidiu explorar o mundo e ser sua própria companhia.
Nós sabemos, Juliana, que era possível ter você de volta. Num mundo onde drones são capazes de destruir instalações subterrâneas e abater caças, era possível te salvar.
Mas a gente vai continuar viajando, praticando o que faz a gente se sentir viva. Seja numa trilha próxima (ou não) de um vulcão, no ar ou no mar, em cima de uma bike, num campo de futebol, dentro do tatame, em cima de uma moto, correndo pelas cidades ou apreciando o pôr do sol, num fim de tarde de primavera.
Eu desejo que a Juliana que existe em nós, não se vá com ela. Pelo contrário, desejo que a sociedade, autoridades e governos não permitam que sua história tenha sido em vão. Juliana não é a primeira mulher a morrer durante uma viagem, mas deveria ser a última.
Juliana Marins, 24 anos, natural de Niterói/RJ, publicitária. Deixou pais, irmã, familiares, amigos e sonhos. Descanse em paz!
“Poesia acontece quando, por um momento, a vida consegue toda a nossa atenção” – Zack Magiezi
*Marília Mesquita é jornalista e assessora de imprensa. Entende que a combinação de esporte e viagens oferece uma mundo de oportunidades para experiêncas únicas, nos conectando com a natureza, enquanto exploramos diversas culturas.