Por Marilia Mesquita – “O esporte salva” é uma das frases mais verdadeiras que já ouvi e pude vivenciar. Em um mundo cada vez mais complexo, onde as pressões sociais e os problemas de saúde mental se intensificam, o esporte surge não apenas como uma forma de lazer ou competição, mas como um verdadeiro salva-vidas.
Meses após perder minha mãe, sentia um vazio imenso e a saudade muitas vezes tomava conta, principalmente nos horários ou dias em que costumávamos fazer algo juntas. Eu sabia que aqueles picos de infinita tristeza não eram normais. Precisava fazer algo novo, que me trouxesse novas sensações e que me tirasse daquele lugar cinza. Pensei, testei e decidi: era na luta que eu queria estar. Depois percebi que não apenas queria estar, como tinha encontrado meu lugar.
Pisar no tatame é terapêutico. É o momento em que não há problema algum na minha mente. A dose diária de endorfina se tornou vital. Muitas das pessoas que estão ali também estão lutando contra ou por alguma coisa. Criamos laços com indivíduos totalmente diferentes de nós, mas que dividem uma rotina em comum e que, com o tempo, só de nos olhar percebem que algo não está certo. Às vezes, penso em como eu estaria se não fosse o esporte e, sinceramente, não consigo imaginar. Eu estou exatamente onde gostaria e preciso estar.
O que aconteceu comigo, acontece todo dia com milhares de pessoas. Acompanho, de longe, a luta de um adicto pela sua vida. Anos de dependência química ativa, com inúmeras recaídas e internações. E foi correndo que ele se encontrou. Agora, mais de um ano longe das drogas, mantém uma rotina de treinos, alimenta-se adequadamente, participa de corridas de rua e foca na sua reabilitação diária. Voltou a ser pai, filho, irmão, tio, amigo.
Também vejo a mulher, esposa, mãe, dona de casa e gerente de empresa, que encontrou no vôlei o melhor antiestresse. Duas vezes por semana, lá está ela, jogando duas horas seguidas e conseguindo aliviar o peso da rotina exaustiva. Ontem mesmo ela disse: “Se eu não jogar o meu vôlei, eu surto.”
A verdade é que o esporte é uma ferramenta poderosa de transformação. E isso acontece muito mais internamente do que por fora. Os músculos, o corpo definido, a perda de peso e as novas habilidades se tornam secundários. Praticar um esporte, cansar, suar e, até mesmo, sentir dor após um treino, são partes de um processo incrível de cura.
A vida, por si só, já exige muito de nós, e o esporte nos traz lições que aplicamos à vida cotidiana: a importância da persistência, a capacidade de lidar com a derrota, a alegria da vitória conquistada com esforço, o respeito às regras e aos adversários. Esses aprendizados são essenciais para formar cidadãos mais conscientes, éticos e preparados para os desafios da vida.
É cansar o corpo e nutrir a mente. Fortalecer os músculos enquanto não sucumbe. É no “cansaço bom” que o cérebro se reorganiza, os problemas parecem menos assustadores e as soluções começam a surgir.
Na batalha diária em que estamos inseridos, praticar um esporte é questão de sobrevivência.
Pautas e contato: esporteedestino@gmail.com
*Marília Mesquita é jornalista e assessora de imprensa. Entende que a combinação de esporte e viagens oferece uma mundo de oportunidades para experiêncas únicas, nos conectando com a natureza, enquanto exploramos diversas culturas.