Por Marilia Mesquita – Sempre pensei na corrida de rua como um dos esportes mais acessíveis e democráticos, por um motivo simples: correr na rua era de graça. Bastava um par de tênis adequado, uma bermuda e uma camiseta, e pronto. Pelo menos era disso que meu pai precisava para fazer suas corridas matinais de domingo. E isso não mudou para ele: continua correndo, mesmo que com uma frequência menor.
Talvez por não ser uma corredora assídua, demorei para perceber que o cenário atual é bem diferente. Para muitos, correr agora exige um arsenal de equipamentos e serviços: tênis de alta performance, roupas tecnológicas, relógio com GPS, óculos específicos, géis energéticos de diversos sabores e, dependendo do objetivo, acompanhamento de nutricionista, educador físico e assessoria de corrida.
A corrida de rua no Brasil
Segundo um levantamento da Confederação Brasileira de Atletismo (CBAt), o Brasil tem mais de 14 milhões de corredores amadores. Para muitos dos novos praticantes, o objetivo principal é cuidar da saúde física e mental. Além disso, a corrida continua sendo um esporte bastante inclusivo, que pode ser praticado tanto individualmente quanto em grupo.
No entanto, quem pratica o esporte há mais tempo já notou a mudança. Li recentemente que, para começar a correr sem participar de provas, é preciso gastar cerca de R$ 600,00 apenas com equipamentos básicos. É um cenário pouco acessível para grande parte da população brasileira. Mas o que isso nos diz?
As provas de rua estão mais populares do que nunca. Redes de supermercados, planos de saúde, lojas de esporte, bancos… todos investem em eventos de corrida. Para as empresas, parece ser um ótimo negócio: arrecadam com as inscrições, fortalecem a marca, e o comércio local lucra. Os atletas, por sua vez, saem satisfeitos.
Esse mercado, que já era promissor, atrai milhares de novos entusiastas dispostos a investir nos melhores produtos e marcas, enquanto cuidam da saúde e do bem-estar.
Corrida de rua movimenta R$ 1 bilhão no Brasil
O crescimento do setor é impressionante. Em 2023, foram registradas 2.186 provas no Brasil, número que saltou para 2.827 em 2024. Para 2025, estão previstos 2.437 eventos. No 3º Summit ABRACEO/CBAt, realizado em São Paulo, dados apresentados pela Associação Brasileira de Organizadores de Corridas de Rua e Esportes Outdoor (ABRACEO) indicaram um crescimento anual agressivo no setor. O mercado de corridas de rua deve crescer 26% em 2025, movimentando pela primeira vez um volume estimado de R$ 1 bilhão em eventos, patrocínios e serviços relacionados.
Esses números mostram como um esporte que já foi sinônimo de acessibilidade se transformou em um grande negócio e, em muitos casos, se tornou caro. Ainda assim, há quem prefira reforçar o básico: correr é liberdade! E para isso, continuo acreditando que o necessário é apenas o que meu pai ainda usa: um par de tênis, uma roupa confortável, a rua e a vontade.
Pautas e contato: esporteedestino@gmail.com
*Marília Mesquita é jornalista e assessora de imprensa. Entende que a combinação de esporte e viagens oferece uma mundo de oportunidades para experiêncas únicas, nos conectando com a natureza, enquanto exploramos diversas culturas.