terça-feira, 3 dezembro, 2024
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Entrevista: Leonardo Petrelli, uma história de sucesso

HOJEPR – Por André Lopes, Fernando Ghignone e Mauricio Marques

O empresário Leonardo Petrelli Neto é, por si só, um case de sucesso. Inquieto, curioso, visionário e, acima de tudo, um obstinado, passou os últimos 35 anos transformando o Grupo Ric, obviamente outro case de sucesso, no maior conglomerado de comunicação do Paraná.

Em quase duas horas de conversa, Leonardo Petrelli contou ao HojePR, sem segredos ou rodeios, como começou o interesse da família pelo ramo da comunicação, quais foram as dificuldades, os percalços, as frustrações, assim como as alegrias, o entusiasmo e a glória em formar e administrar um grupo reconhecido pela liderança e competência no segmento.

Na primeira parte dessa entrevista, Leonardo Petrelli volta no tempo e busca, em suas lembranças, as histórias e detalhes da convivência com seu pai, em suas palavras, o sedutor Mario Petrelli. Relembra os anos de formação profissional, nos Estados Unidos, e seu período de trabalho na Rede Globo.

Confira nesta quarta-feira (12), na segunda parte, porque Petrelli deixa a Globo e como começa a formação da rede de comunicação da família.

HojePR – Como começou o interesse da família Petrelli pelo ramo da comunicação?

Leonardo Petrelli – Meu pai sempre teve uma ligação muito forte com a comunicação. Sempre foi um apaixonado. Estamos até preparando uma biografia dele em que estamos resgatando essas coisas. Ele teve uma influência muito grande de parentes da Itália, que foram proprietários de jornais. Essa influência “contaminou ele”. É aí que começa o interesse dele.

HojePR – Quais foram os passos dele nesse processo?

Leonardo Petrelli – No início da sua carreira profissional, meu pai foi foca no Diário do Paraná. Fez um programa de política cobrindo a agenda da Assembleia. Eu nem sabia disso, acabei descobrindo por conta da biografia. Em meados dos anos 1970, ele inicia um período de entrada na comunicação, quando ele compra duas rádios, uma em Curitiba, a Iguaçu, quando o Paulo Pimentel perdeu a rádio, e outra em Joinvile. Na sequência, ele compra a TV Coligadas, de Blumenau, que retransmitia a Globo, e o Jornal de Santa Catarina. Depois compra também a TV Cultura, em Florianópolis e em Chapecó, que transmitia a Tupi.

mario petrelliMario Petrelli, fundador da RIC, morreu em 2020 aos 84 anos

HojePR – Começa aí o grupo de comunicação?

Leonardo Petrelli – Não. Nesse período ele já tinha um sonho, de montar um grupo de comunicação através da Globo, da Coligadas. Só que isso foi interrompido quando ele perdeu a disputa da concessão para a RBS de Florianópolis. Naquela época tinham os acordos políticos e ele tinha um acordo fechado, de fio de bigode, com o Konder Reis, ex-governador de Santa Catarina, que acabou traindo meu pai, em função de uma conversa com o Maurício Sirotsky, da RBS, que já tinha uma estrutura muito forte e robusta na área de comunicação no Rio Grande do Sul. Então o Konder disse que ia profissionalizar a comunicação em Santa Catarina em vez de dar a um grupo que tinha ligações políticas.

Com essa perda, meu pai acaba enfraquecido com a Globo e, nesse momento, com essa perda, ele acaba permitindo a entrada da RBS em Santa Catarina. É uma passagem interessante porque, lá atrás, se ele não perde a concessão em Santa Catarina nós teríamos, naquela ocasião, formado um grupo de comunicação ligado a Globo. Quando ele perde a Globo, acaba indo para a Tupi. Pouco tempo depois, a Tupi quebra e aí, naquele momento, ele ficou sem programação. Esse movimento dele, da criação de uma rede, é frustrado exatamente em função desses problemas na área de programação, em que primeiro ele perde a concessão de Florianópolis e depois ele perde a programação da Tupi, e fica sem programação. Diante disso, ele acha por bem sair da comunicação.

HojePR – Então a família chegou a deixar a área de comunicação?

Leonardo Petrelli – Sim. Por um período de 10 a 15 anos, meu pai deixa esse sonho de lado e vai cuidar da vida dele. Ele se desliga da área de comunicação e vende tudo. Ele vendeu a Cultura para o Manoel Dilor de Freitas, que já tinha algumas emissoras em Santa Catarina, e vendeu outra parte da estrutura para os Brandalise, da TV Barriga Verde. Aqui no Paraná, ele também vendeu a Rádio Iguaçu. E sai do negócio. Olhando para o passado, foi até bom ele não avançar nesse primeiro movimento. Meu pai não era um homem de comunicação. Ele até tinha paixão pela área, mas ele nunca tocou uma estrutura de comunicação. Para ele era um negócio. Até vou contar uma coisa: já no fim da vida, ele se surpreendeu com o sucesso do grupo e disse pra mim que nunca imaginou que esse negócio cresceria da forma que cresceu.

HojePR – Depois de vender toda a estrutura de comunicação, o que o doutor Mario Petrelli fez?

Leonardo Petrelli – Meu pai era da área de seguros. Ele teve uma vida profissional de muito sucesso na área de seguros. Ele foi executivo do Grupo Boavista, na época o segundo maior grupo segurador do Brasil. Meu pai quase comprou a Boavista, em uma época em que ele tinha uma ligação muito forte com o Amador Aguiar, fundador do Bradesco. No meio do processo, ele perdeu a oportunidade porque o Braguinha veio aqui e comprou a Boavista meio nas escondidas. Acabou que meu pai virou executivo do Braguinha, assumindo a vice-presidência do Grupo Atlântica-Boavista.

Depois o Bradesco comprou a seguradora e meu pai assumiu a vice-presidência do Bradesco. No meio do caminho ele teve uma ligação forte com uma apólice de seguro chamada Top Clube, que foi uma das maiores apólices do mundo. Ganhou, inclusive, um bom dinheiro nisso. Ele se associou ao Augusto Prolik, um grande amigo dele, para montar uma empresa e administrar essa carteira. Depois ele virou vice-presidente e acionista da Icatu Seguros, quando a família Braga saiu de lá, então ele sempre teve essas ligações. Ele chegou, também, a se associar ao Roberto Marinho para montar uma seguradora chamada Roma, presidiu a Golden Cross e, ainda, o maior grupo latino-americano na área agrícola, o Bung-Born.

HojePR – Nesse período, onde você estava?

Leonardo Petrelli – Quando meu pai sai da comunicação, eu fui tratar da minha vida. Vale lembrar que eu não tinha nenhuma ligação com a comunicação. Eu fui “contaminado” pela comunicação, nesse período, porque eu o acompanhava. Eu ia nos programas das emissoras, assistia, enfim, era companheiro dele. Acabei gostando dessa parte de produção de televisão, esse mundo da fantasia e tal. Paralelamente, eu fui fazer a minha formação. Comecei trabalhando como fotógrafo. Meu primeiro emprego foi no Teatro Guaíra. Quem me deu o primeiro emprego foi o Luiz Roberto Soares, que foi secretário de Cultura do Ney Braga. Fui fotógrafo do Ballet Guaíra. Depois, naquela época, eu, minha irmã e o Ivan Bueno, que era outro fotógrafo, fizemos uma grande exposição fotográfica em Curitiba.

HojePR – Então sua entrada no ramo da comunicação acontece pela fotografia?

Leonardo Petrelli – Essa foi uma ligação. Eu achei por bem que eu devia seguir esse caminho e fui fazer cinema nos Estados Unidos. Me formei em cinema lá. Aí fiz um programa de Tecnólogo em Comunicação e Televisão e também me formei nisso. Essa é a minha formação de produção de televisão e de cinema. Então, eu até fui para os Estados Unidos para estudar fotografia e cinema. Entrei, inicialmente, no ‘Brooks Institute’, em Santa Bárbara, na Califórnia, que era um fenômeno na época, mas não tinha uma estrutura muito boa de cinema. Aí eu saí de lá e fui estudar em uma universidade chamada ‘University of Sound Arts’, em Hollywood, onde me formei em Cinema e, depois, fiz uma extensão de graduação na área de televisão.

leonardo petrelliLeonardo Petrelli

HojePR – Quando você volta para o Brasil, acaba indo trabalhar na Globo?

Leonardo Petrelli – Sim. Quando eu voltei, já formado portanto, meu pai tinha feito um primeiro movimento, ou uma segunda tentativa, de comprar uma emissora em Chapecó (SC), e que de novo não deu certo. Eu até estava pensando em trabalhar com ele em Chapecó, mas não deu certo. Então me habilitei para trabalhar na TV Globo e fui trabalhar lá. Era uma época em que a Globo estava empenhada em profissionalizar a área de produção, fazer com que realmente a produção fosse uma verdadeira função dentro da emissora, quase de um produtor executivo que é, na verdade, um gestor de uma obra. Eles tinha um núcleo, na Herbert Richards, formado para trazer para emissora talentos da área de cinema para fazer coisas mais sofisticadas. Era um núcleo voltado para fazer minisséries, por exemplo.

HojePR – De que ano estamos falando?

Leonardo Petrelli – Isso tudo em 1982. Eu me formei nesse ano. Entrei na Globo e fiquei três a quatro anos lá.

HojePR – E como foi a experiência de trabalhar na Globo?

Leonardo Petrelli – Foi muito boa. Aprendi bastante. Fiz muitas coisas lá. Tive oportunidade de fazer séries brasileiras. Fiz ‘Meu destino é pecar’, de Nelson Rodrigues, por exemplo. Pude fazer coisas sofisticadas que a Globo colocava no horário das dez, dez e meia. Eles substituíram as novelas que eram exibidas nesse horário por coisas mais sofisticadas. Então foi a época das minisséries. Entre várias, produzi ‘Armação Ilimitada’, que foi uma série revolucionária para a época em termos de hábitos, junto com o Guel Arraes, e, por último, produzi ‘O Tempo e o Vento’, uma grande obra com o Paulo José. Esse tipo de aprendizado me ajudou muito em gestão por que você, como produtor, é um gestor do orçamento. Você tem o desafio de montar uma obra e você, como produtor, tem que participar da escolha do elenco, da escolha das locações, na formatação de toda a roteirização do processo, para você otimizar custos, enfim, você gerenciar o dinheiro daquilo. Então, se formos ver, nada mais é do que a implantação de uma empresa.

Eu tive a oportunidade, coisa que eu não tive na minha formação, minha formação foi técnica, de aprender a gerir empresas e, sobretudo, gerir empresas num ambiente, eu não diria tóxico, mas extremamente competitivo. E eu era um garoto, tinha 23, 24 anos, trabalhando na Globo. Você lidava com diretores com os seus caprichos, elenco, enfim, era um desafio muito grande. E eu estava muito bem lá. Eu tinha uma carreira muito boa para trilhar, era bem considerado. Na época que eu estava para sair da Globo eu fui convidado para ser o diretor substituto do Guel Arraes, na direção da ‘Armação Ilimitada’, e entrar na área de direção artística. Eu tinha uma boa oportunidade de crescimento. Até montei uma produtora independente na época, para trabalhar com o ‘Fantástico’, que tinha os clipes musicais. Fiz vários clipes com vários artistas. Colocava no Fantástico, que na época era onde eram apresentados os grandes lançamentos musicais. Então, foi uma história bacana a minha passagem por lá.

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