sexta-feira, 27 dezembro, 2024
HomeMemorialEm Foz do Iguaçu, o grande equívoco “ressuscitou” Eva Braun

Em Foz do Iguaçu, o grande equívoco “ressuscitou” Eva Braun

Quando estava na ativa, como desembargador do Tribunal de Justiça do Paraná, do qual se aposentou este ano, Antenor Demeterco Junior nunca deixou de ser um inquieto e bem documentado estudioso da História Geral. De forma especial sempre se interessou por períodos de grande convulsão, como a revolução Comunista de 1919, e a ascensão e queda de Hitler, o Nazismo, a II Grande Guerra Mundial. Os séculos 19 e 20 foram os seus preferidos.

Leitor atento, nada passa despercebido a Demeterco e a sua enorme capacidade de computar e cotejar fatos históricos. Tem intimidade com a História e – posso assegura – é um especialista em encontrar falhas clamorosas no conteúdo de livros supostamente históricos. Sua biblioteca é uma preciosidade, e mais preciosa ainda sua memória. E falhas encontra, com frequência, em jornais e revistas, quase sempre de falta de precisão histórica.

Pois hoje ele manda carta à coluna para desmascarar uma estória fantástica, em que duas alemãs viveram em Foz do Iguaçu. Seriam, supostamente, Eva Braun, a amante de Hitler, e uma filha do ditador, sob o título: “KBK”, uma biografia de Haldine Kathrim e de sua mãe Magda Goebbels. O livro foi escrito por dois médicos. Puro equívoco, diz, em outras palavras, Demeterco Junior. Acompanhemos seu raciocínio na carta que enviou à coluna:

2 – DUAS MENDIGAS

“Curitiba, 11.10.2014, Caro Aroldo:

Viviam na cidade de Foz do Iguaçu, por volta do ano de 2005, duas mulheres alemãs, mãe e filha, em situação de mendicância, conhecidas popularmente como as “condessas”, Nora Friz e Nora Daisy.

Chamaram a atenção da população, e logo se imaginou serem ligadas ao nazismo: Seriam Eva Braun, a amante do ditador austro-alemão, e a filha deste.

Os médicos Luiz Monteiro Franco e Christiane Lopes Pereira interessaram-se pelas duas personagens, e realizaram documentada pesquisa sobre elas, que publicaram em livro, sob o título “KBK”, uma biografia de Haldine Kathrim e de sua mãe Magda Goebbels.

Ora, Magda Goebbels e seus seis filhos, inclusive Haldine, comprovadamente não sobreviveram à guerra: Magda assassinou todas as crianças e suicidou-se com o marido Joseph.

3 – HITLER SEM FILHOS

Adolf Hitler não teve filhos, nem com a amante Eva Braun, nem com a mulher de seu ministro, Magda.

Seus antecedentes familiares eram preocupantes, com relação a casos de deficiência física e mental, o que lhe causava “profunda inquietação” (cf. “A História Perdida de Eva Braun”, p. 72, de Angela Lambert).

Magda e Haldine mortas no bunker de Hitler, não fugiram no avião pilotado por Hanna Reitsch, como afirmou Nora Dayse (a sedizente Haldine) para os autores de “KBK”.

Este avião era um Arado AR 96 de treinamento, para dois passageiros (cf., entre outros, “O Piloto de Hitler”, p. 364, de C.G. Sweeting).

Nele não poderiam ter embarcado, como consta do livro, Hitler, Magda, a filha, a piloto, e mais alguém, este seria, historicamente, o general Robert Ritter Von Greim.

4 – MORTA EM BERLIM

Magda e a filha não podem ter vivido com as identidades de Nora Friz e Nora Dayse, primeiro por terem morrido nos escombros de Berlim em 1945, segundo, por ser mãe e meio – irmã de Harald Quandt (1921-1967), empresário alemão milionário, com atuação em mais de duzentas empresas.

Este último, talvez, não deixaria seus familiares em situação de mendicância, na distante Foz de Iguaçu.

As informações prestadas por Nora Dayse para os autores Monteiro Franco e Lopes Pereira são confusas e contraditórias, e desafiam fatos acontecidos e assentados por historiadores.

Verdade que as “condessas” contribuíram para o folclore da cidade de Foz do Iguaçu, nada além disso.

Os personagens que pretenderam representar, encontraram seu túmulo na cidade de Berlim, arrasada no fim da 2º guerra Mundial.”

Leia Também

Leia Também