A ideia de pertencer a uma coletividade é tão antiga e óbvia que não nos damos conta da sua importância e passamos direto sobre o assunto, quando tratamos dos assuntos do gerenciamento da convivência, análise do clima organizacional e do estímulo dos nossos colaboradores. Pertencer, se identificar com o grupo e conviver com os outros é tão necessário ao ser humano quanto para a maioria dos animais. É por isso que nos unimos e formamos famílias, tribos, torcidas e até de gangues. Empresas, governos, partidos e impérios se esfacelam quando o senso de pertinência, o almágama que unia seus participantes, deixa de existir.
Inseridas no contexto e, com noção clara do rumo do caminho a trilhar, as pessoas gostam de contar as outras que pertencem e estão ajudam a criar a boa história da sua empresa. – “Tenho orgulho de participar do local onde trabalho e de ajudar a construir esta história. Tenho minha equipe e nela as minhas referencias e conexões”.
O senso de pertinência nos dá a sensação de que participamos de “alguma coisa maior do que nós mesmos”. Nos dá força e incentivo para lutar por uma causa, que será comum também aos parceiros, àqueles que estão do nosso lado no dia-a-dia.
Foi esta identificação de causas semelhantes que fez com que nossos antepassados se reunirem em diferentes clubes sociais. Não tem cidade do Novo Mundo, formada por imigrantes que não tenha o seu clube italiano, alemão, polonês, japonês, etc. Existem GTGs – Centro de Tradições Gaúchas até na Amazônia e Japão.
Por isso, empresários, em vez de ficar aplicando em seus colaboradores, doses cavalares de campanhas motivacionais, façam esforços inteligentes, sutis e constantes para despertar neles o velho e bom senso de pertinência.
Pois, seja trabalhando em um hospital, na construção de uma estrada, torcendo por um time de futebol, estudando em uma faculdade ou participando de um programa de governo, as pessoas adoram dizer que fazem parte de algum grupo ou programa e que têm orgulho em pertencer aquele momento da história que estão vivendo juntas. Uma das mais fortes motivações para o ser humano é perceber, pertencer e ajudar a construir algo de grandioso.
O senso de pertinência nasce no desenrolar da história contada. Por isso, uma das habilidades do bom líder é saber contá-las. Com elas, os rumos são indicados, os caminhos, as dificuldades e os benefícios, tangíveis e intangíveis das metas a serem atingidas são explicados.
A população de um país, quando sente durante muito tempo a falta de lideranças autênticas e de bons projetos estruturais começa a deteriorar o seu tecido social e a conseqüente “não-identificação” – falta do senso de pertinência o que resulta na destruição das bases do bom relacionamento e a situação do “salve-se quem puder”.
Esta situação de anomia – falta de projetos consistentes e desafiadores – esta pasmaceira geral e a rapinagem oficial descontrolada obriga a nossa juventude a procurar outros grupos e abandonar o senso de pátria. Só pertenço ao Brasil em época de Copa do Mundo, devem pensar nossos jovens. Deve ser por isso que os brasileiros enchem os grupos sociais da internet. No virtual pelo menos sou aceito e posso me manifestar, mas deste período da história eu não quero participar. Ele não me desafia, só me envergonha.

*Eloi Zanetti é escritor, especialista em marketing e comunicação corporativa. Contato: eloizanetti@gmail.com
