Ouço o barulho dos macacos sauás quase todos os dias. Ficam a uma distância segura no alto das árvores de onde podem nos ver e, a qualquer movimento nosso, param de guinchar. Seus alaridos quebram o silêncio das montanhas. É uma rotina matinal: o bando passa ao largo da nossa morada, contornando a mata dos pinheiros em mudança de posição; com certeza em busca de alimentos e demarcação de território. Seus gritos são mais agudos e intermitentes quando há prenúncio de chuva. Não precisamos nem consultar o Climatempo, nem ver as previsões nas TVs. Macacos e sapos cantando com insistência é sinal de chuva se aproximando. Fora o alarido dos macacos, das seriemas e dos sapos, somos também lembrados pelo canto das cigarras no início do outono.
Entre um alarido e outro, um silêncio profundo preenche quase todos os momentos. Lá embaixo, no vale, ao alcance da vista, o pequeno vilarejo da Campina com sua pracinha, campanário e os afazeres dos seus moradores. Cada um cuidando da sua lida. Cães e gatos se esparramam onde podem e morgam a delícia do toque caloroso dos raios do sol. O sistema slow life chegou aqui há muito tempo. Tudo tem a sua hora.
Olho de novo a paisagem do vale e ele já ganhou novas cores, agora as montanhas estão cobertas por uma cor rosa que brilha cobertas por um céu azul limpíssimo. Em tudo o silencio envolve, o grande silencio das montanhas. Silencio de vida e continuidade… assim é viver na Mantiqueira.
Eloi Zanetti, publicitário, referência em comunicação corporativa e empresarial