sexta-feira, 14 novembro, 2025
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“É a religião, seu idiota”

Bolsonaro e Lula

Eu estava terminando o colegial, nos 1960, quando ouvi as primeiras aulas esclarecedoras sobre o historiador britânico Arnold Toynbee, dos nomes mais prestigiados então pela academia, e fonte sempre recorrente da mídia, então sem Internet e quase nada que se conhece hoje em cobertura internacional.

Traduzindo advertência do historiador britânico – para associá-lo ao que temos hoje nas vésperas das eleições presidenciais –  lembro que ele fazia premonições “espantosas”, como, principalmente, a de advertir que a humanidade “nos próximos anos” estará  cada vez mais dependentes da religião. De qualquer tamanho, cores ou latitudes. Ele não associou o foco  da humanidade em termos como a economia, sem desconhecer sua importâncias. Nem se iandremportou que então omundo comunista estivesse expandindo-se em suas teses materialistas – o materialismo científico.

MESMA ESCOLA

Para mim não foi surpresa nenhum a estreia de Bolsonaro e Lula na campanha eleitoral via rádio e televisão na noite de ontem, 16. Eles centraram suas falas – pode-se assim dizer – no apresentar valores das religiões como ancoras essenciais que pretende para seus eventuais governo a partir de 2023.

É possível admitir que no Brasil ainda continuará por anos associando espiritualidade com religião, tal é a pressão que lobbies de igrejas evangélicas (e elas são milhares no país) atuam na bancada dita Evangélica.

O que se deveria esperar é que a espiritualidade , por primeiro, acolhendo homens e mulheres,fosse alvo, alguma  como a prédica de Gandhi na Índia. Libertando a nação de suas mazelas…

Durante o regime militar implantado em 1964, a CNBB foi, com OAB/BR, as armas mais poderosas a denunciar crimes contra homens e mulheres que  se opunham ao regime. Os dois organismos tinham  gente de  primeiro time a assessorá-los, como o jurista Sobral Pinto, Dalarti, Scalco,  Raimundo Faoro, reverendo Wright, FHC, Serra, dom Helder Câmara, dom Waldir Calheiros, dom Evaristo Arns…

Multidões em busca de Deus

Agora, por favor, candidatos Lula e Bolsonaro: não mudem a mão de pregar o ideário democrático e de metas para atender a um país com 33 milhões de faminto com falas que serão manifestações que só se pode conceber   a um “baixo clero”. São estopins em direção ao fenômeno religioso,sem qualquer vôos renovadores.

Lula, por exemplo – que se apresenta como católico romano – tem hoje um pastor a assessorá-lo nas questão religiosa evangélica (um nome que esconde absoluta falta de unidade doutrinária) e uma CNBB que parece ter decidido pelo silêncio obsequioso, embora, quando solicitada a falar de certos temas de políticas de governo, nunca se mostre simpática a Bolsonaro. E anote-se: Bolsonaro continua se dizendo católico, embora batizado por aquele pastor recentemente preso por fraudes no seu partido, o PSC.

A propósito: enquanto o católico romano Lula “canta e dança” em terreiro de Umbanda (com a “licença” do  “Nostra Aetate”, documento papal sobre a liberdade religiosa), o Estadão de hoje diz que o presidente da República, recomendado por seus assessores, vai em busca do rebanho católico. Lá estaria o maior percentual anti-Bolsonaro. O que apenas em parte é verdade, pois alguns dos mais midiáticos padres católicos e seus canais (Rede Vida, TV Aparecida, Canção Nova, Evangelizar, TV Pai Eterno, TV Século 21) são, pelos menos, simpáticos ao presidente. Nesse universo católico de muits cores, estaria entrincheirado o maior segmento dos que mais se opõem a Bolsonaro, segundo as pesquisas de opinião.

Nesse ponto, de valorizar a religião (ou espiritualidade)  depreende-se que o staff de Bolsonaro começa a fazer leitura  sobre o momento. Pelo menos, aceita a premonição de Toynbee, sabendo  quanto ela tem de verdade nesse país em que 84% da população crente em Deus. É a hora da espiritualidade/religião.

Lula também está no mesmo caminho, aceitando a adoção da velha recomendação, com mudança: em lugar de “É a economia, idiota”, ele já absorveu que pode tirar partido forte do agora eleitor maior de Bolsonaro. “É a religião, idiota”.

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