Redação e assessoria – O Real Madrid esteve paralisado durante a Guerra Civil Espanhola? Santiago Bernabéu foi aliado do ex-ditador Francisco Franco? O Real Madrid foi o clube do regime? E o FC St. Pauli sempre foi um símbolo de resistência contra o fascismo?
O futebol na Europa é, sem dúvidas, mais do que um jogo; é uma força cultural e de identidade coletiva. Estádios, antes destinados principalmente a torcedores locais, agora são grandes atrações turísticas. Contudo, há uma batalha mais profunda e menos visível em andamento: como os clubes apresentam ou ocultam suas histórias difíceis. “A partida que nem todo clube quer jogar”, novo documentário dirigido pelo acadêmico brasileiro Felipe Tobar, revela como interesses políticos, comerciais e turísticos moldam as histórias que os clubes de futebol escolhem contar ou esconder em seus museus e estádios.
Assista pelo Youtube:
Três anos de produção
O filme, cuja produçāo levou três anos, leva os espectadores à Espanha e à Alemanha, com foco em clubes icônicos como o Real Madrid e o FC St. Pauli. O Real Madrid, um dos times mais famosos do mundo, opta por silenciar seu papel durante a Guerra Civil Espanhola e figuras importantes como Coronel Ortega Gutierrez, o único presidente comunista da história do clube. Enquanto isso, o FC St. Pauli se posiciona como um símbolo de resistência, com torcedores exigindo lembrança e responsabilidade pelo passado difícil do clube durante o regime nazista.
“A partida que nem todo clube quer jogar” desmistifica narrativas que ainda circulam no mundo do futebol como as alegações de que Santiago Bernabéu apoiava Francisco Franco ou que o clube era o favorito do regime. Também joga luz ao passado nazista do FC St. Pauli que se reinventou em 1980 pela cena punk e anarquista do alternativo distrito de Sankt Pauli em Hamburgo, Alemanha.
Com um extenso trabalho de campo e uma minuciosa pesquisa histórica, o documentário apresenta entrevistas com o historiador especializado na Guerra Civil Espanhola, Dr. Josep Maria Solé i Sabaté da Universidade de Barcelona, e os renomados jornalistas Fernando Carreño (MARCA) e Adrian Vogel (El Mundano), sendo este último sócio do Real Madrid há mais de 50 anos e cujo pai trabalhou diretamente com Santiago Bernabéu como olheiro durante o regime franquista. Na Alemanha, foram realizadas entrevistas com o diretor do museu do FC St. Pauli, Sönke Goldbeck, o historiador Gregor Backes, responsável por desvendar o passado nazista do clube, o cientista político Bastian Schlienke, e Christian Pulm, assistente social do Werder Bremen, encarregado de desenvolver projetos político-educacionais voltados para os jovens ultras do clube.
Com duração de 35 minutos, “A partida que nem todo clube quer jogar” acaba de estrear no YouTube no canal “Football Studies” em quatro línguas (Ingles, Espanhol, Portugues e Alemāo). A produçāo contou com o apoio técnico da Meseta Films, empresa sul-americana especializada em documentários.
O documentário recebeu críticas especializadas de Cas Mudee, professor da Universidade da Georgia e principal especialista em movimentos populistas, colaborando regularmente com o jornal The Guardian; Jonathan Even Zohar, consultor estratégico do grupo de pesquisa do patrimônio cultural da Reinwardt Academy (Amsterdā, Paises Baixos) e co-fundador do projeto europeu “Football Makes History”; e Bryan Clift, professor da Universidade da Carolina do Norte, especialista em estudos culturais e sociais do esporte.
Felipe Tobar
Felipe Tobar é um acadêmico brasileiro que ocupa um cargo de professor no Departamento de Gestão de Parques, Recreação e Turismo na Clemson University, nos Estados Unidos. Seus interesses de pesquisa estão focados na interseção entre esporte, turismo, patrimônio, eventos e política. Seus trabalhos já foram publicados em diversas revistas internacionais de prestígio, incluindo o International Journal of Sport Policy and Politics, Sport in Society, Soccer and Society, Journal of Sport & Tourism e The International Journal of Sport and Society.