Lembrei-me deste artigo que fiz em 2017 ao ver o resultado do jogo Palmeiras x LDU Quito:
Os povos antigos cultuavam vários deuses. Havia divindade para tudo: plantio, colheita, amores, caça, guerra, paz e, se duvidar, até para dor de dente. O deus do vinho era Baco e a da cerveja Ceres. Do alto das suas moradas: Olimpo para os gregos e Asgard para os vikings, os deuses se comportavam de modo muito semelhante aos humanos. Gostavam de intrigas, caíam de amores por belas mulheres, traíam-se uns aos outros, brigavam entre irmãos e se enfureciam por qualquer besteira, mas gostavam mesmo era de brincar com o destino dos mortais.
Penso que para nós, apreciadores do futebol, torna-se necessário voltar aos velhos tempos e escolher um deus para a nossa causa; já que a existência dele está mais que comprovada. Já o percebemos centenas de vezes nas jogadas de Pelé, Zico, Garrincha, Messi, Ronaldinho, Ronaldo e Neymar e outros carismáticos, isto é, os escolhidos por Ele. Certa vez até ajudou o Maradona, dando-lhe uma mãozinha. Sua presença é aparece quando o futebol apresenta esses momentos de transcendência, magia e encantamento; como foi o jogo de classificação Palmeiras X LDU Quito.
Não há dúvida, o futebol é um esporte divino. Deuses não aparecem nos jogos de rugby, basebol, polo aquático, ginástica olímpica ou lançamento de dardo. Nelson Rodrigues, que sabia ver as coisas de outra maneira, já suspeitava da relação do sagrado com a bola. Por inspiração sublime, criou a figura do Sobrenatural de Almeida – uma entidade invisível que interferia nas jogadas, punha a bola para dentro do gol das formas mais inusitadas, parava jogadas feitas e promovia defesas impossíveis.
O filme O Máskara (Jim Carrey) nos mostra Loki, um deus escandinavo brincalhão. Com a máscara colada ao rosto do herói, esse vira um deus sarrista, lascivo que pega pesado com os humanos. Penso em um deus do futebol, assim como o Loki, lúdico, imprevisível, fazendo acontecer o inusitado, defendendo pênaltis e virando jogos nos últimos instantes, criando vitórias impossíveis. Um deus que enaltece alguns e destrói outros, revela o talento de pobres garotos e traz alegria para o povo. Escolher um deus para o futebol se faz mais que necessário. Para que ficar perdendo tempo com Ovnis, ETs e outras crenças?

*Eloi Zanetti é escritor, especialista em marketing e comunicação corporativa. Contato: eloizanetti@gmail.com
