
“Positive Trauma” vai contar a jornada de superação do brasileiro Giulio Ferrari, com produção de JT Barnett, da aclamada série “Máfia dos Tigres”
(Com colaboração do jornalista André Nunes)
Esta Coluna/Blog vem acompanhando nos últimos anos alguns casos envolvendo vítimas de assédios e abusos sexuais, como o julgamento, em Curitiba, do médium Maury Rodrigues, da SBEE. Neste período, formou-se uma rede de apoio e denúncias dessas vítimas, tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos – rede esta que, entre outras contribuições, ajudou a desvendar os crimes que levaram à prisão de João de Deus.
Um dos organizadores da rede, Giulio Ferrari tornou-se figura frequente em reportagens de revistas de circulação nacional, como a Veja e a IstoÉ, denunciando escândalos de abusos praticados por líderes religiosos. Curitibano radicado em Dallas, no Texas (Estados Unidos), Giulio faz parte do espectro autista (Asperger), é casado e pai de dois filhos.
“POSITIVE TRAUMA”
Ele conta à Coluna que está em produção o documentário “Positive Trauma”, que iniciou as gravações em fevereiro, em Dallas, e será oferecido para produção de serviços de streaming, como a Netflix e a Amazon. Um dos produtores da aclamada série “Máfia dos Tigres”, JT Barnett está envolvido no projeto, que conta também com um dos maiores advogados da indústria do segmento e tem despertado o interesse de figurões de Hollywood. A previsão de lançamento é em 2022.
SAMUEL MONTANA
Agente especial aposentado de Homeland Security, com 25 anos de atuação dentro e fora dos Estados Unidos, tendo servido em 14 países, Samuel Montana é referencial quando se trata de investigações criminais. Ele viveu quatro anos no Brasil como adido diplomático e é casado com uma brasileira.
“Fui gestor do programa nacional para o crime transnacional e divisão de segurança pública na sede da segurança nacional. Eu não queria me tornar oficialmente um agente secreto, então o que eu fazia eram ‘participações especiais’. Em relação ao Giulio Ferrari, fiz minhas investigações sobre ele (risos). É uma pessoa de sucesso apesar do background de abusos que enfrentou, é bom pai, um excelente marido e quer contribuir para sua comunidade. Sua luta é legítima e queremos registrar para a posteridade no documentário, sob uma abordagem e perspectiva de investigação”, explica Montana no vídeo de promo do show (https://www.youtube.com/watch?v=4yxYW4ZGsng).

ABUSADORES SERIAIS
O título do documentário representa esta busca de Ferrari por “juntar os pedaços” de suas experiências traumáticas ao longo da vida em um legado positivo para sua família e comunidade.
“Sou um sobrevivente. Por 20 anos, fui uma vítima. Vítima de abuso sexual infantil, servidão por contrato, vítima de racismo. Após tudo isso, criei o primeiro protocolo mundial para identificar, expor e levar à Justiça abusadores seriais. Um protocolo científico. Hoje, consigo ajudar pessoas que foram abusadas a se curarem de seus traumas. Tentamos ajudá-los a perceber que sobrevivência e aceitação andam de mãos dadas.
O modus operandi por trás de líderes religiosos, padres, pastores, médiuns e afins, que usam sua posição de poder para manipular e envolver sexualmente seus seguidores em suas vidas, são de pessoas que sempre se enquadram como ‘psicopatas da tríade obscura’, que mesclam narcisismo, maquiavelismo e psicopatia”, detalha Giulio.
VERDADE, MAS COM RESSALVAS
Qualquer analista do mundo de denúncias produzidas pelo curitibano Giulio Ferrari sobre abusos que ele contemplou em torno de um médium famoso de Curitiba, terá de incluir o outro lado. Isto significa ouvir várias pessoas que, pertencendo à Sociedade Brasileira de Estudos Espíritas (SBEE), mostram também lados pelo menos suspeitos na biografia do denunciante, agora escritor que se encaminha para ter sua obra em documentário.
Esse “outro lado” foi fartamente examinado por este site/Coluna, nos anos 2019/20, o que é facilmente encontrável na web. Isso não significa que este espaço não valorize e respeite as palavras de Ferrari. E por uma razão simples: abusadores sexuais de crianças e adolescentes escondem-se com grande facilidade em meios religiosos. Igrejas, cristãs e não cristãs, os acolhem.
O papa Francisco, por exemplo, acaba de publicar um “motu proprio” estabelecendo normas no Direito Canônico para prevenir e punir abusadores sexuais no clero católico. E os outros “celeiros de abusadores” – boa parte, igrejas cristãs- como se comportam sobre o assunto vergonhoso e criminoso?
O que se tem de adotar com relação a Ferrari é ouvir, também, pessoas que o conheceram dentro do mundo kardecista e vivendo – em certas circunstâncias – o que poderia ser chamado de vida dupla. Por exemplo: nos Estados Unidos, Ferrari aproveitou a lei e adotou o atual nome, livrando-se da identidade brasileira. Por que agiu assim?
Em síntese: a luta de Ferrari é um bom combate, mas não pode virar uma “indústria em torno de escândalos”. Mas sobretudo tem de se submeter ao “outro lado”, ouvindo os que com ele conviveram em Curitiba na seara do médium acusado de ser predador sexual. (AMGH).
https://www.youtube.com/watch?v=4yxYW4ZGsng