terça-feira, 1 julho, 2025
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Cúpula da Amazônia: as demandas dos povos da floresta

Agência DW – Foi necessária a ajuda de várias pessoas para que Maria Francineide Ferreira conseguisse viajar de Altamira a Belém, no Pará, para trazer a mensagem dos ribeirinhos atingidos pela usina Belo Monte. No auditório principal dos Diálogos Amazônicos, que antecedeu a chegada de chefes de Estado para a Cúpula da Amazônia, na terça-feira (08), Ferreira resumiu em três minutos os impactos que vivem desde o barramento do rio Xingu, em 2015.

“Não tem mais peixes, por isso falta renda e comida. Os pescadores foram expulsos do rio, jogados em assentamentos de concreto. Muitos não têm condição de pagar energia, estão doentes, não têm acesso a água potável e ainda estão sendo ameaçados por ‘falarem demais'”, disse Ferreira à DW.

Ela vibrava após ter se pronunciado ao microfone diante da ministra de Meio Ambiente, Marina Silva. Aquele espaço também havia sido disputado: lideranças populares de toda a Amazônia aguardavam numa lista e torciam para serem chamadas ao palco, depois de enfrentarem dias de viagem e dificuldades na expectativa de serem ouvidas.

“Ela ficou muito impactada”, comenta Ferreira sobre a reação da ministra após sua intervenção. “Mas o governo do PT tem essa grande dívida com o povo do Xingu. Belo Monte foi o maior erro. A gente sabe que, se não fosse o PT, seria Bolsonaro, porque a pressão era grande”, pontua à DW, citando a administração de Dilma Rousseff.

Ferreira, 54 anos, defende reparação aos ribeirinhos impactados pela construção da hidrelétrica no Pará, estado que cobra uma das tarifas mais caras de energia. E teme como o planejamento de grandes empreendimentos serão abordados no acordo que sairá da reunião dos presidentes que participam da cúpula, marcado para acontecer no mesmo local que sediou os Diálogos Amazônicos, um centro de convenções de 24 mil m² refrescado por ar condicionado.

Maria Francineide Ferreira em sala de conferência, ao lado de uma planta
“Governo tem essa grande dívida com o povo do Xingu” , diz Maria Francineide Ferreira

Esforço dos povos indígenas

A dois quilômetros dali, debaixo de tendas cobertas por lona rodeadas por concreto no sambódromo da cidade, lideranças indígenas de todos os países amazônicos elaboraram suas próprias propostas. Sem apoio de dinheiro público, a Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab) captou recursos e apoiou a ida de aproximadamente 700 pessoas, que acamparam num parque de Belém.

“O governador do Pará, Helder Barbalho, diz que precisa de apoio para manter a floresta em pé. Como se mantém a floresta em pé? Somos nós que fazemos isso! Ele cria o dia do garimpeiro, autoriza garimpo pelas secretarias municipais. É muito contraditório”, diz Auricelia Arapiun, coordenadora executiva do Conselho Indígena Tapajós Arapiuns.

Jonas Reis, cacique e professor do povo Mura, viajou cinco dias de barco para trazer as expectativas dos moradores da Terra Indígena (TI) Gavião. Na região onde vive, município de Silves, Amazonas, a exploração de gás natural preocupa os indígenas.

“Faz muito barulho, sentimos a poluição com queima de gás, o tráfego de caminhões, o movimento das balsas. Isso afugenta as caças e os peixes”, diz, citando alguns possíveis impactos do plano para explorar petróleo e potássio nos arredores da TI.

Marlon Vargas, presidente da Confederação de Nacionalidades Indígenas da Amazônia Equatoriana (Confeniae), tem a expectativa de que seu país proíba de vez a exploração de petróleo na Reserva Yasuni, área de conservação amazônica que tem a maior reserva do combustível fóssil do Equador.

“É um feito histórico. Nunca deixamos de brigar por isso nas ruas, nos tribunais, nas greves”, diz Vargas à DW, que veio a Belém pedir apoio às demais organizações indígenas da Amazônia.

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