quinta-feira, 26 dezembro, 2024
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Crítica: Meu Corpo Está Aqui desnuda intimidade de PCDs

Por André Nunes / Fotos: Maringas Maciel – Reflexão, incômodo e empatia. Talvez seja esta a melhor definição após assistir os 60 minutos de duração de Meu Corpo Está Aqui, espetáculo com dramaturgia e direção de Julia Spadaccini e Clara Kutner, que desnuda a intimidade e as vivências de quatro atores com deficiências. Foram duas sessões lotadas no Teatro Zé Maria, dentro da Mostra Lucia Camargo do 32º Festival de Curitiba, neste sábado (30) e domingo (31).

Pedro Fernandes

Em cena, Bruno Ramos, surdo não oralizado; Haonê Thinar, pessoa amputada; Juliana Caldas, que tem nanismo; e Pedro Fernandes, que tem paralisia cerebral com cognitivo preservado e é usuário de cadeira de rodas. Corpos que costumam ser invisibilizados socialmente, ou então que caem num “coitadismo” que nada tem de bondoso ou engraçado. Afinal, todo mundo supera obstáculos e é especial de alguma forma, dizem em determinado momento do espetáculo. 

Os atores ficcionalizam e interpretam suas experiências, falando abertamente sobre seus relacionamentos, corpos e desejos. O que, por si só, já causa incômodos na plateia, não habituada a ver alguém com nanismo ou em cadeira de rodas se despindo para o público – nos sentidos literal e figurado.

A “dramédia” Meu Corpo Está Aqui retrata o jogo entre as pulsões e os obstáculos que se apresentam nas descobertas e nas experiências de afeto e sexualidade em corpos PCDs. Um tema original e inédito nos palcos, que se aprofunda na reflexão desses corpos “invisíveis” em seu dia a dia.

Bruno Ramos

A peça está em sintonia, dentro da programação do Festival de Curitiba, com a Mostra Surda de Teatro, em formato e propostas inéditas, ampliando ainda mais o lema de “Festival para Todos“, e contando com intérprete de Libras.

Juliana Caldas

Turnê nacional

Está sendo uma realização pessoal muito grande, tendo em vista que trabalho há mais de 20 anos escrevendo teatro e, pela primeira vez, fazendo uma dramaturgia voltada para uma questão que também me inclui. Ser uma autora PCD e estar num projeto onde todos em cena também são, é uma vivência de vasta inclusão. Precisamos de PCDs protagonizando filmes, peças, programas de TV. Especialmente num cenário de amor e sexo”, afirma Julia Spadaccini, que é deficiente auditiva. 

Haonê Thinar

O espetáculo estreou em outubro de 2023 no Rio de Janeiro. Após Curitiba, segue para Belo Horizonte e São Paulo, nas próximas semanas.

Nota: 4/5

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