PANDEMIA REVELA A NOVA POLARIZAÇÃO POLÍTICA
Isolar ou não a população, diante da pandemia do covid-19?
Houve uma guinada na opinião da sociedade brasileira, a partir de 24, quando o presidente Bolsonaro fez sua controvertida declaração opondo-se à continuação da quarenta para evitar o coronavírus.
Desde a eleição de 2018, a polarização deixou de ser esquerdas (Lula e seus amigos) versus a chamada nova política que Jair prometeu encarnar.
O que se constatou a partir de agora é que a o país se divide a entre os que são em favor do confinamento, defendem vidas, e preocupam-se com a débâcle do sistema de saúde do país; e os outros, compostos por quem teme enorme recessão econômica.

NO EPICENTRO
No epicentro dessa nova realidade está o presidente, advogando que “tudo volte à normalidade”.
Na sua fala, Jair Bolsonaro joga para os prefeitos e governadores a responsabilidade pela recessão que se encaminha a curto prazo.
E os governadores respondem com manifesto polido, em que convocam o presidente para liderar uma grande marcha contra o covid-19, em defesa das vidas dos brasileiros.
ESCOLHA O ÂNGULO
Há muitos ângulos pelos quais podem ser feitas leituras da nova crise, vista em cores, e “acolhida” com estupefação pelos brasileiros, especialmente com a descompostura do presidente ao governador Doria, de São Paulo, a quem acusou de ter-se elegido com o uso do seu nome (Bolsonaro).
Isso é em parte verdade.
Mas o bate-boca foi inoportuno, na hora errada, com alguns aspectos até relevantes quanto ao conteúdo, mas totalmente inadequado quanto à fala.
Criticada pelo presidente, a quarentena é, no entanto, o melhor remédio até agora registrado mundo afora.
E é oportuno lembrar a Itália, por exemplo: foi país que não optou de início pelo isolamento social. Hoje conta seus mortos aos milhares, a partir do desastre exemplar de Bérgamo, de onde procissões de caixões saem diariamente em busca de locais para enterros em cidades vizinhas. Triste sorte que também tem a Espanha, agora até superando a Itália em vítimas o Coronavírus.
NÃO ESTÁ SÓ
Claro que o presidente não está sozinho nessa investida contra a quarentena. O ministro da Saúde, Luiz Mandetta, que iniciou “seu brilho” no comando contra essa tragédia, preferiu agora até voltar atrás, de leve: já deixou de recomendar o isolamento, que se mantém graças à decisão dos governadores apoiados pelo STF.
O presidente da Confederação Nacional das Indústrias (CNI) está com posição próxima a de Bolsonaro.
De qualquer forma, o prudente neste momento é recolher o exemplo de quem se saiu bem no combate ao covid-19, como a China, que isolou uma cidade de 60 milhões de habitantes. Com ótimos resultados.
Assim como é prudente olhar o exemplo da disciplinada Alemanha, que enfrenta com sucesso o coronavírus, advogando isolamento, tomando medidas para o bom funcionamento do Estado e da economia, como pede a ministra Ângela Merkel.
Merkel é um ser notável, exceção mesmo na Europa. Eu me pergunto se todo o receituário de Merkel, que conta com povo disciplinado e estrutura de saúde inigualável, pode ser comparada com o que somos nesta Nação de 230 milhões de habitantes, 50% vivendo na linha da miséria?
Os velhos manuais de filosofia do antigo Ginásio nos ensinavam o fundamental – “só se pode comparar o comparável” -, tal como pontificava o mestre Theobaldo de Miranda Santos.
Assim, se não somos Alemanha nem temos Merkel a nos governar, há que se acatar modelos como os que propõe a sapiente OMS para salvar a Nação da pandemia que promete entregar-nos um Armagedon apocalíptico.
O primeiro passo foi dado, é apoiado por 26 governadores, o do isolamento social, por ora.