Situada em Castro, a comunidade Padre Roque Zimmermann surgiu em 2018 já com o projeto de ser 100% agroecológica. Em dezembro de 2017, algumas famílias do então acampamento Maria Rosa do Contestado se mudaram para a área rural reivindicada (antiga fazenda Jeca Martins) e constituíram o acampamento Padre Roque Zimmermann.
Hoje, cerca de 40 famílias vivem na comunidade e desde o início, o grupo esteve empenhado no preparo da terra para a produção de alimentos agroecológicos. Além das hortas familiares, também possuem uma grande horta coletiva e boa parte das famílias já possui certificação de produção orgânica pela rede Ecovida.
Atualmente, a produção é focada em milho, feijão, hortaliças e tubérculos. São alimentos enviados para 17 escolas de diferentes municípios da região pelo PNAE estadual, além de envio para o Programa de Aquisição de Alimentos do Governo Federal (PAA).
Ademir Fernandes é morador da comunidade Padre Roque Zimmermann e comenta a satisfação das famílias em poder ajudar: “Estamos muito felizes com esse processo, por saber que vamos estar ajudando outras famílias com o que produzimos aqui e que irá completar o seu alimento de cada dia”.
A relevância desse acampamento está ligada à determinação da comunidade em adotar práticas agrícolas agroecológicas. O primeiro passo foi transformar a área ocupada, que antes era dedicada à pesquisa de pesticidas, em um espaço de agricultura orgânica. “Quando chegamos dentro da nossa área era praticamente só um campo de teste. Hoje é uma agrovila. Quase todos os lotes têm árvores frutíferas e árvores nativas”, destaca Rosane, moradora.
O integrante da coordenação do acampamento e da direção do MST, Celio de Oliveira Meira enfatiza que a escolha da agroecologia foi decisiva para a melhora na qualidade de vida das pessoas. “Para além do feijão, temos uma grande variedade de produtos, como a mandioca, a batata doce, arroz, alface, hortaliças em geral, para gente ter a autonomia e não ficar escravo do trabalho e do sistema. Estamos mostrando aqui, na prática, que é possível produzir de forma alternativa e viver bem, em harmonia com a natureza”, afirma.
Projeto de extensão
As famílias que vivem no acampamento Padre Roque receberam assessoria da Universidade Federal por meio do projeto de Extensão Mapeamentos Comunitários, que sistematizou uma proposta de planejamento territorial elaborada em conjunto com a comunidade para as áreas de moradia e área comunitária do acampamento.
O professor da UFPR e coordenador do Plantear, Jorge Montenegro, explica como o projeto chegou à Comunidade: “O Plantear começou a trabalhar com a Comunidade Padre Roque Zimmermann (Castro) no início de 2019. Nesse momento, a Comunidade e a direção estadual do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) nos convidaram para construir a proposta de planejamento territorial da Fazenda Jeca Martins, área pública de propriedade do Estado do Paraná, que tinha sido ocupada pelo MST. O Plantear nasce junto com esse convite, já que foi na primeira reunião com o pessoal do MST para falar do planejamento territorial do Padre Roque, que os professores que hoje integram o Plantear decidiram começar a trabalhar juntos. Após realizarmos a primeira visita para entender a demanda e avaliar as possibilidades de realizar o planejamento, o processo foi dividido em duas fases, seguindo a proposta da Comunidade” conclui.
Plantio de agrofloresta
A Comunidade de Castro realizou um mutirão coletivo com cerca de 300 pessoas, entre elas produtores/as agroecológicos de comunidades do MST, professores/as e pesquisadores/as, militantes urbanos do Marmitas da Terra e educandos/as da Escola Latino-Americana de Agroecologia (ELAA) para implantarem a primeira agrofloresta coletiva do acampamento, que tem a função de produzir alimentos que serão doados em ações de solidariedade do MST no Paraná. A atividade fez parte da programação da 1ª Pré-Jornada de Agroecologia, que antecedeu a 20ª Jornada de Agroecologia, realizada em Curitiba no final de novembro do mesmo ano.
Outras comunidades também integraram o mutirão: camponeses/as do assentamento Contestado, Lapa; pré-assentamento Emiliano Zapata, de Ponta Grossa; acampamento Maria Rosa do Contestado, de Castro; assentamento Guanabara, Imbaú; acampamento Reduto de Caraguatá, de Paula Freitas; acampamento Mário Lago, Irati; assentamento IPC Conceição; e acampamento Luiz Gonzaga 2, Ortigueira.
Jorge Luiz Schmidt, que faz parte da coordenação da comunidade, falou da simbologia da atividade: “Este tipo de ação é muito importante para nós. Precisamos unir esforços e nos ajudar para fazer um amanhã melhor”.