Há muito tempo que sigo e atento, preocupado, comentando com quem queira falar a respeito, do absurdo quadro brasileiro do crédito: quatro bancos detêm 75% do volume de transações nas mãos! E só o último deles é estrangeiro. E pior: outro se diz público!
Obviamente, com toda certeza, numa hora isso iria ser um problemão. E é agora! Ausência de democratização do crédito.
As poderosas, importantes e sérias Confederações do Comércio e da Indústria mantêm e divulgam, todo mês, boletins de suas equipes técnicas, mostrando esses números feios e comprometedores. Alertando que estão impedindo o consumo, a fabricação dos produtos. E vendo como ameaças!
80% das famílias estão com dívidas e já 1/3 vencida! Como disse um ministro do STJ num recente artigo: claro sintoma de superendividamento!
A 2ª. parcela do 13º (algo em torno de 115 bilhões de reais!) sempre foi aguardada pelo varejo pra desaguar estoques, aquecer Natal e virar o ano com otimismo.
Nesse 2022, com esse quadro caótico, apenas 12% irá pra poupança. 40% vai direto pra quitar dívidas, notadamente em cheque especial e cartão de credito.
Que cobram, hoje, 399% de juro ao ano! Então, pro varejo vai uns 30% e o resto pra serviços.
Ou seja, comprometemos definitivamente esse final de ano. Há pouco, quando do conhecido Black Friday, que nesse ano, mercê da inusitada época da copa do mundo, foi mais amplo e divulgado, pois bem: esse Black teve o pior resultado desse século!
Tanto nas vendas digitais quanto nas lojas físicas. Um desastre. O Serasa divulgou que as Indústrias de SC e PR, em outubro, revelaram o pior quadro de negativos da série histórica. A média nacional já é a pior de todos os tempos!
Não há dinheiro sobrando. Todos estamos devendo. Nosso país não é pequeno e não tem perfil que se contente ou resolva seus problemas com pouca atividade industrial, de serviços. Requer varejo forte.
Precisamos de vendas, de giro de prateleiras. Aí tem emprego, salários. Sou liberal, não defendo e não quero a intervenção do Estado na economia. Longe de se falar em tabelamento de juros. Ou de preços. Qualquer experiencia histórica mostra o desastre que é isso.
Mas o Estado deve intervir nos exageros, nos excessos. Rever rumos. Fixar ações de soluções! Bancos públicos, órgãos oficiais de crédito, devem auxiliar o mercado e competir com esses bancos oferecendo recursos mais baratos. Puxando as taxas pra baixo. Cooperativas de crédito! Precisam ser estimuladas.
Facilitadas. Não impor tantas regras e buscar grupos econômicos e de atividades comuns e que possam atuar mais proximamente e mexer com crédito. E com juros menores. Reduzir seus custos tributários.
Aquele 399% de juros anuais nos cartões de crédito e cheque especial, mencionado lá no início, vamos encontrar no Banco do Brasil e na CEF. Quem tem um cartão de crédito ou cheque especial com eles, sabe disso. Talvez um pouco menos.
Não acho anormal banqueiros levarem autoridades (eleitas e atuais) pra festivos encontros no exterior ou em balneários cinco estrelas. Claro, querem manter esse quadro. Praticam a cegueira e burrice.
Políticas públicas. Facilidades pra Empresas aliviarem seus trabalhadores, dando alternativas baratas pra saírem da dívida! Hoje não podem. Privilégio de bancos! Quem sabe pudessem as Empresas alocarem uma parcela dos tributos que pagam e constituir um fundo emergencial pra socorrer trabalhadores fortemente endividados? Parece simplista? Pode ser. Mas que se busque algo urgente.
E meu Deus, falando da eterna e infindável ideia da reforma tributária. Cansativo isso! Qualquer real que não se paga de imposto vai pro consumo. Pra ampliação de empresa. E que precisa ser feito. Com 399% ao ano, qual doido vai fazer isso?
Bons tempos em que só a vaca era atolada. Hoje, quase todos nós estamos atolados. Nos juros!
(*) Éricoh Morbiz foi diretor da CIC, dirigiu sindicato patronal de shoppings em Curitiba e é tido como um dos bons “olheiros do futuro” do país.