quarta-feira, 4 junho, 2025
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Clube dos Oito: uma confraria de gourmands que fez história

Por Raul Urban – A Gastronomia, desde a Antiguidade, e com mais intensidade desde os séculos 18 e 19, quando do surgimento dos primeiros “chefs de cuisine” e a decorrente publicação dos primeiros livros sobre o tema, sempre atraiu comunidades envoltas pelo prazer do degustar comidas e bebidas preparadas conforme os respectivos valores culturais e sociais dos diversos povos e civilizações, transformando essa experiência em aprazíveis momentos de prazer da degustação.

Não demorou para que, nos mais diversos cantos do mundo, essa experiência resultasse no agrupamento de pessoas formando as chamadas Confrarias (de gourmets ou de gourmands) mundo afora. Antes de tudo, convém uma breve conceituação de uma e outra confraria, para melhor entendimento dos leitores. “Gourmet” refere-se a alguém que aprecia a qualidade e o refinamento dos alimentos e bebidas, com foco na técnica, harmonização, cujos membros participam de eventos de degustação, workshops culinários e viagens gastronômicas. Já “gourmand”, refere-se a alguém que simplesmente aprecia comer bem, com foco em diversos tipos de cozinha, ambientes e experiências culinárias. Em ambos os casos, essa é uma excelente forma de aprendizado sobre a gastronomia, dividir ideias e, em especial, passar bons momentos de lazer.

Curitiba não é exceção, e também reúne confrarias do gênero, mas hoje contamos a história de uma delas, surgida em 1970, e que, infelizmente, deixou de existir no primeiro decênio do século 21 sem deixar marcas, por conta do gradual desaparecimento de seus membros, todos de idade já mais avançada. Nosso tema é o Clube dos Oito, confraria de gourmets / gourmands, então formada exclusivamente por associados da Sociedade Thalia, e que ali, por décadas, sempre às sextas-feiras, exibiam seus dotes culinários, com pratos servidos, obviamente, aos membros do grupo, como também aos convidados de cada um dos integrantes. Na primeira metade dos anos 1970, a Sociedade Thalia era presidida por José Vieira Sibut, que, temporariamente, também integrou o Clube dos Oito.

No cardápio, semanalmente, a cargo de um dos sócios – médicos, professores, economistas, corretores, jornalistas, fotógrafos, advogados, comerciantes, até mesmo um ferroviário, profissionais que iam se revezando no andar do tempo e renovando o quadro do Clube dos Oito – opções que iam do simples ao sofisticado, como dobradinha portuguesa, caldeirada de frutos do mar, ossobuco, mousses, coelho com molho de abacaxi, trutas com champignon, bacalhau ou linguado ao forno, tucunaré ao molho rosado, ou simples lasanhas e ravioli à bolonhesa.

Durante a existência da confraria nos presumíveis 45 anos de vida (porque inexiste a data oficial de encerramento das atividades, acreditando-se ter ocorrido por volta de 2015), os dotes culinários desses “cucas” amadores foram mostrados por dezenas de nomes e de ofícios diversos, praticamente todos já falecidos, mas foram oito – daí o nome – que “fundaram” a instituição: Guisardo Pilatti Júnior (“Tico”), falecido em 1984; Leomar Rodrigues; o saudoso jornalista Wilmar Sauner, da “Gazeta do Povo”, que nos deixou em 1992. E, ainda, o médico Jouglas Lafitte Cordeiro (1930 / 2022); o empresário Mauro Balhana, que permaneceu no grupo até 1986; o jornalista Wilde Martini, o empresário Amyr Cassou, que se retirou em 1972, além do comerciante Wilson Teixeira Lima.

No correr do tempo, paralelamente às respectivas profissões, passaram também pelo clube nomes como os dos economistas Edison Nicolau e Ismar Delagassa Passos; o representante comercial Ubiratan Martins, e até mesmo o odontólogo e ex-presidente da Sociedade Thalia, Eolo Schwartz, entre outros. Certamente, a geração de mais idade conheceu alguns ou todos aqui nominados, e que preencheram nossas memórias com suas receitas mágicas, sempre às sextas-feiras, após uma semana geralmente carregada profissionalmente.

Este escriba, no início dos anos 1990, foi apresentado ao Clube dos Oito pelo também já saudoso Rubens Marchand, que fez carreira como professor de Educação Física e que, no passado, brilhou no cenário do basquete regional. Aposentado, ausente de Curitiba durante alguns anos para assumir novas empreitadas, jamais se desligou do grupo, chegando a presidir o Clube dos Oito, a que estava ligado desde 1972. Marchand, que só se retirou por volta de 2010, faleceu em maio de 2012. Em 1995, quando o Clube festejou seus gloriosos 25 anos de vida, este colaborador, num fascículo então patrocinado pela saudosa rede de supermercados Mercadorama, traçou um breve histórico da confraria, nominando os tantos que até ali por ela passaram e deixaram suas universais lembranças gustativas e gastronômicas.

No ano de jubileu de prata – 1995, os doze cucas e sócios da Thalia eram, respectivamente, como mostra a foto oficial tirada à época, da esquerda para a direita, o técnico em contabilidade Policarpo Coelho; o ferroviário Roque Trevisan; o advogado Ari Walter Cinello; o comerciante Wilson Teixeira Lima; o corretor Joaquim Gabriel; o empresário Cezar Satckowski; o fotógrafo Velci Grandó; o também corretor Luiz Carlos Mansur; o professor de Educação Física, Rubens Marchand e o professor universitário Dante Grandó.

*Raul Urban é jornalista, escritor, memorialista, pesquisador da memória histórica e ligado à área do transporte multimodal integrado e colaborador do Mural do Paraná.

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