Por Marcos José Valle* – A Cidade Industrial de Curitiba (CIC) representa um marco no desenvolvimento urbano e econômico da capital paranaense. Criada na década de 1970 como um polo de industrialização planejado, a CIC visava impulsionar a economia local, atrair investimentos e modernizar a cidade. No entanto, ao longo das décadas, esse território evoluiu para muito além de seu propósito inicial, tornando-se o quinto bairro mais populoso do país, o primeiro fora do Rio de Janeiro, com mais de 170 mil habitantes, segundo o Censo de 2022. Este cenário ilustra o comportamento emergente das cidades, onde dinâmicas sociais, econômicas e espaciais interagem de maneira espontânea e complexa, transformando os espaços urbanos.
Historicamente, a criação da CIC foi parte de um projeto ambicioso que combinava planejamento industrial com a modernização urbana. A ideia era atrair empresas e trabalhadores para um espaço planejado, onde as atividades industriais seriam integradas com serviços básicos e infraestrutura. Contudo, como destaca o conceito de produção do espaço urbano de Henri Lefebvre, a configuração da CIC foi profundamente moldada pelas relações de produção e pelas demandas sociais. O bairro não permaneceu limitado às intenções originais de seus criadores: tornou-se um espaço híbrido, onde indústrias coexistem com zonas residenciais e comerciais.
Atualmente, a CIC é um retrato vivo da solidariedade orgânica descrita por Émile Durkheim, onde a interdependência entre diferentes setores e atores cria um tecido social coeso. Redes de apoio comunitário, como associações de moradores, ONGs e iniciativas culturais, emergiram para suprir lacunas deixadas pelo poder público e fortalecer os laços entre os residentes. Além disso, o bairro enfrenta desafios como a expansão habitacional informal e a necessidade de infraestrutura adequada para atender ao crescimento populacional.
Futuro da CIC
O futuro da CIC depende da capacidade de articular políticas públicas inovadoras que reconheçam sua complexidade e potencial. A descentralização administrativa e o incentivo à auto-organização comunitária são caminhos promissores. Um exemplo seria a criação de hubs multifuncionais em galpões industriais desativados, que poderiam servir como espaços para capacitação profissional, eventos culturais e serviços de saúde. Além disso, o planejamento deve focar na integração entre transporte público, habitação e áreas de lazer, conectando melhor as regiões residenciais aos polos industriais e comerciais.
Como laboratório vivo de desenvolvimento urbano, a CIC oferece lições valiosas para Curitiba e outras cidades brasileiras. Ela mostra que os espaços urbanos são mais do que áreas delimitadas por mapas ou planejadas por tecnocratas: são organismos vivos que respondem às forças sociais, econômicas e culturais. Reconhecer e valorizar essa dinâmica é essencial para elaborar políticas públicas que não apenas controlem o espaço, mas incentivem sua criatividade e resiliência. Uma fusão entre a ordem a desordem no crescimento populacional.
A CIC, com sua rica história e constante transformação, permanece como um símbolo do urbanismo adaptativo e de como as cidades podem crescer de forma orgânica, refletindo as necessidades e aspirações de seus habitantes. O desafio agora é garantir que esse crescimento seja sustentável e inclusivo, integrando a produção do espaço urbano às políticas públicas e ao protagonismo da comunidade.
(*) Marcos José Valle. Graduado em Ciências Econômicas, Graduando em Sociologia, Especialista em Filosofia, Mestre em Educação e Doutor em Sociologia. Professor dos cursos de Graduação da Escola Superior de Gestão, Comunicação e Negócios, Uninter.