Agência DW – Os presidentes do Chile, Gabriel Boric, e do Uruguai, Luis Lacalle Pou, criticaram nesta terça-feira (30) a defesa do regime venezuelano feita pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no dia anterior, após o brasileiro ter se reunido com o presidente da Venezuela, Nicolás Maduro.
Boric, de esquerda, e Lacalle Pou, de direita, vieram a Brasília para uma cúpula de chefes de Estado da América do Sul convocada pelo Brasil, que reuniu os líderes de 11 países da região.
Na segunda-feira, antes da cúpula, Lula teve uma reunião bilateral com Maduro – que não pisava no Brasil há quase oito anos – e depois fez uma defesa do regime venezuelano, na qual relativizou a deterioração da democracia ocorrida durante os governos Maduro e Hugo Chávez, ao dizer que isso se trataria de uma “construção narrativa”.
Para muitos especialistas e organizações dedicadas ao estudo e à promoção da democracia, a Venezuela é atualmente uma autocracia eleitoral.
“Você sabe a narrativa que se construiu contra a Venezuela. Da antidemocracia, do autoritarismo. Então eu acho que cabe à Venezuela mostrar a sua narrativa para que possa efetivamente fazer pessoas mudar de opinião. (..) É preciso que você construa a sua narrativa. Eu acho que, por tudo que nós conversamos, a sua narrativa vai ser infinitamente melhor do que a narrativa que eles têm contado contra você”, afirmou Lula.
“Direitos humanos devem ser respeitados”
O presidente chileno já havia se destacado entre os líderes de esquerda da região ao denunciar em novembro de 2022 as violações de direitos humanos e as prisões políticas ocorridas no regime autoritário de esquerda da Nicarágua, comandado por Daniel Ortega. Em fevereiro deste ano, Boric foi além e classificou Ortega como um ditador.
Nesta terça-feira, em Brasília, Boric também criticou as violações de direitos humanos na Venezuela, que contribuíram para um grande fluxo migratório de venezuelanos para outros países, muitos dos quais para o Chile, e pontuou sua discordância com Lula sobre o regime de Maduro.
Venezuela e órgãos multilaterais
“Estamos felizes que a Venezuela retornou aos órgãos multilaterais, porque acreditamos que nesses espaços é onde os problemas são resolvidos. E não com declarações em que só nos atacamos uns aos outros. Isso, no entanto, não pode significar varrer para debaixo do tapete ou fazer vista grossa para questões que, para nós, são questões de princípios importantes”, afirmou Boric.
O líder chileno disse que as violações de direitos humanos na Venezuela não eram uma “construção narrativa”, mas algo que ele havia testemunhado com seus próprios olhos.
“Lá eu manifestei respeitosamente que tinha uma discrepância com o que o presidente Lula afirmou ontem. No sentido que a situação dos direitos humanos na Venezuela era uma construção narrativa. Não é uma construção narrativa, é uma realidade, é séria, e tive a oportunidade de vê-la nos olhos e na dor de centenas de milhares de venezuelanos que hoje vivem em nosso país. E que também exigem uma posição firme e clara de que os direitos humanos devem ser respeitados sempre e em todos lugares, independente da cor política do governante de turno”, afirmou Boric.