Nos últimos dias, todos os olhos e ouvidos estão voltados aos noticiários político e jurídico. Você, assim como eu, provavelmente não tem o hábito de acompanhar julgamentos no Supremo. Ou qualquer julgamento, na verdade. Hoje eu trabalho com charutos, minha formação acadêmica é em arquitetura e urbanismo. Ou seja, o “juridiquês” está completamente fora da minha rotina. Jornalistas têm sido essenciais para fazer esse serviço de tradução. Ainda que eu seja cercada por excelentes advogados, é nos jornais que tenho buscado entender os ritos e a tradução do que tem sido discutido em Brasília.
O ponto é que muitos dos assuntos julgados pelo Supremo, não apenas agora, dizem respeito a todos nós. Ainda assim, a linguagem é tão específica que, por dificuldade de compreensão, acabamos nos distanciando do debate. Para mim, isso acontece também no universo dos charutos e das bebidas. Basta alguém falar em taninos que muitos já se afastam da conversa. Saber o que é um corte ou uma lágrima no vinho é tão específico quanto entender o blend de um puro ou o que significa filler. Cada universo cria seu próprio vocabulário e, muitas vezes, esse vocabulário se torna uma barreira de entrada para quem chega curioso, mas ainda não iniciado.
É por isso que admiro quem se dedica a explicar o que parece óbvio. Quem desenha termos, traduz conceitos e compartilha conhecimento com paciência. Eu consigo entender o que é tanino quando alguém me diz qual sensação ele provoca no paladar. Do mesmo modo, “embargos infringentes” deixa de soar tão distante quando alguém tem a disposição de explicar em outras palavras.
Talvez você nunca se interesse por vinhos, e tudo bem. Mas acredito que todos nós, em qualquer área, precisamos aprender a nos comunicar com quem não domina o jargão técnico. Não cabe a mim destrinchar o vocabulário jurídico, mas se um dia te falarem para degustar um charuto long filler com um blend saboroso, você já vai saber: trata-se de um charuto feito de folhas inteiras, o que garante maior qualidade e intensidade de sabor. O blend é a combinação dessas folhas, responsável pelos sabores e aromas.
Quanto aos embargos de declaração… esses, confesso, eu ainda estou aprendendo.
*Carolina Macedo é curitibana, empresária, cigar sommèliere e pioneira no universo dos charutos, atuando à frente da Bulldog Tabacaria e abrindo espaço para mais mulheres no setor. Fala sobre este universo, além de agendas de cultura e lazer.