Chegamos àquela fase do ano em que ninguém mais sabe que dia é. Há quem diga que o mês está voando e quem conte os segundos para os dias de descanso, que parecem mais distantes do que o Carnaval. Para qualquer pedido, há apenas dois prazos: para ontem ou só no ano que vem. Ao mesmo tempo, existe uma urgência em resolver a vida, garantir todos os presentes, uma roupa nova para as festas, cumprir prazos e ainda encontrar todas as pessoas que você quer bem.
O fim do ano chega com a pressa de quem deixou o tempo escorrer pelos dedos. De quem não percebeu os dias passando e viveu no automático, entre trabalhos, prazos e reuniões. Dezembro nos faz prometer que todos esses encontros concentrados em poucas semanas serão mais frequentes no próximo ano. Afinal, a vida precisa ser mais do que boletos e reuniões.
Eu amo rituais, e essa época é um prato cheio deles. É a oportunidade de encontrar e reencontrar pessoas queridas. De dizer o quanto são importantes. De demonstrar carinho e gratidão no sentido mais literal possível. Sem papo de coach aqui.
Neste ano, eu consegui (ainda que com espaço para melhorar) viver além de sobreviver. Tratei, com a mesma importância das reuniões, os cafés e as cervejas com amigos. Sempre que pensei em alguém, me obriguei a mandar um “oi” naquele exato instante. Porque, quando a gente deixa para depois, o depois quase nunca chega.
Quando os jornais começam a publicar as retrospectivas do ano, no meio de tantas tragédias elencadas, eu me pergunto se consegui mesmo viver mais. Ainda que tenha sido melhor do que no ano anterior, acho que essa é uma meta que nunca podemos deixar de renovar e aprimorar: encontrar amigos e familiares, dizer que os amamos, viver novas experiências, rir com pessoas novas, experimentar novos sabores, ler novos autores e observar novas paisagens.
É isso que nos mantém vivos. Alimentar a alma é tão importante quanto cumprir prazos. Que a correria do novo ano não nos faça esquecer disso.

*Carolina Macedo é curitibana, empresária, cigar sommèliere e pioneira no universo dos charutos, atuando à frente da Bulldog Tabacaria e abrindo espaço para mais mulheres no setor. Fala sobre este universo, além de agendas de cultura e lazer.
