A causa censória do MBL – Movimento Brasil Livre – que, mais do nunca, tunga aqueles que acreditaram no seu ideal libertário, mira agora em Caetano Veloso. Há um movimento em curso acusando o cantor e compositor de pedófilo. Em 1986, ele se casou com a atriz Paula Lavigne, quando ela contava apenas 13 anos. Ele, 40. Há questões legais envolvendo o que era ou não era considerado imoralidade ou ilegalidade à época. De qualquer forma, Caetano não está sozinho.
ROQUEIRO CAIPIRA
Nos anos 50, Jerry Lee Lewis enfrentou o mesmo problema. Era um roqueiro da Louisiana em ascensão quando foi fazer uma turnê em Londres.
Questionado sobre a menina de 13 anos que o acompanhava, ele a apresentou. Chamava-se Myra, era sua prima de primeiro grau e também sua esposa.
Lewis era dez anos mais velho, tinha 23, e do lugar onde vinha, o Sul dos Estados Unidos, era comum os homens casarem-se com meninas adolescentes assim como era comum os matutos mascarem fumo na soleira da porta. Os ingleses não achavam assim.
Logo, o escândalo o atingiu também na América e praticamente enterrou sua carreira ou a congelou por longo tempo.
‘VIM MATAR ELVIS’
Claro que a imagem de Jerry Lee Lewis tinha muito a ver com isso. Seu maior sucesso, “Great Balls of Fire”, dizia tudo. Ele incendiava pianos durante o show e, certa vez, foi à casa de Elvis Presley, em Graceland, sem avisar e quando um dos seguranças perguntou o que ele fazia ali, mostrou uma arma e disse: “Vim matar Elvis”.
ONDA “CONSERVADORA”
O caso envolvendo Caetano e Paula Lavigne, agora recuperada, vem a reboque da suspensão da mostra “Queermuseu”, da polêmica do homem nu no MAM e, agora, da decisão da direção do MASP, o Museu de Arte de São Paulo, de classificar para maiores de 18 anos a exposição “Histórias da Sexualidade” – algo inédito.
BAIXARIA DA TELEVISÃO
De minha parte, estranho muito que essa dita onda conservadora não atue sobre realidades que devem ser atingidas: as bobagens, besteróis – inclusive sexuais -, sociais, políticos de costumes com que a televisão brasileira nos premia diariamente.
PROGRAMAS POLICIAIS
Um dos bons exemplos desse febeapá (como diria Ponte Preta) são os programas de repórteres policiais, de incentivo à violência policial (na maioria das vezes), na pregação do desrespeito a direitos humanos fundamentais, no proselitismo frequente à pena de morte (sem julgamento judicial).
‘CRIADOUROS’ DE POLÍTICOS
Esses programas (e não excluso deles o do Faustão), são exemplos do caos televisivos. Neles vejo grandes criadouros de “políticos” que, com enorme audiência numa população de baixa escolaridade, acabam se elegendo deputados, prefeitos, vereadores.
Enfim, são retratos do Brasil por inteiro, que os moralistas não querem retocar. Não lhes interessa retocar
CENSURA PRÉVIA
Caetano fez bonito. Gravou um vídeo juntamente com outros artistas em que se diz chocado porque no século XXI ainda se discute censura. Pois é. Em 2015, há dois anos, portanto, o mesmo Caetano se apresentava como um eloquente defensor do direito à censura prévia dos biografados. Por sorte, os ministros do STF não lhe deram pelota.
CAPENGANDO NO SÉCULO 20
Se casasse hoje com uma menina de 13 anos seria um pedófilo, um tarado, como querem os reacionários do MBL. Mas a lei, à época, estava a seu favor e a expressão “estupro de vulnerável” sequer era mencionada nos autos.
Agora, repare: três décadas separam os casos de Lewis e Caetano Veloso.
Os EUA, desde então, ingressaram no século XXI, mas o Brasil continua 30 anos atrasado. E Caetano e o MBL têm culpa no cartório.