Assessoria – Um importante trabalho científico vem sendo realizado desde 2024 no Parque de Natureza Buraco do Padre, em Ponta Grossa, com o objetivo de inventariar a fauna do local e analisar sua relação com a conservação dos ecossistemas naturais da região. A pesquisa é parte de um levantamento mais amplo promovido pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), voltado à biodiversidade do Parque Nacional dos Campos Gerais.
O estudo é conduzido em cooperação direta com a gestão do Parque de Natureza Buraco do Padre e envolve docentes e pesquisadores de diferentes áreas da UEPG, como agronomia, geografia e biologia, e integra também esforços paralelos de levantamento da flora, mapeamento de fragmentos de campos naturais e corredores de floresta. O levantamento da fauna tem revelado a riqueza e diversidade da vida silvestre presente nos Campos Gerais, conforme explica o geógrafo Átila Cristian Santana.
“Mais de mil registros já foram obtidos por meio de apenas duas câmeras instaladas estrategicamente no parque, com foco em locais que oferecem recursos naturais — como água e alimento — e indícios de passagem de animais”, comenta.
Entre os registros mais notáveis, segundo ele, estão espécies de felinos como a jaguatirica e o puma (também conhecido como onça-parda ou suçuarana), animais de hábitos discretos e difíceis de serem registrados. Diversas espécies com filhotes também foram observadas, como catetos, jacus e até um graxaim-do-campo — uma espécie de canídeo nativo — com seu filhote.
“O posicionamento das câmeras obedece a critérios técnicos, como a proximidade a fontes de alimento, por exemplo, árvores de jerivá (que produzem coquinhos) e áreas com pinhões, além de poças d’água naturais. Uma das imagens mais significativas foi feita em um campo rupestre, onde um graxaim foi flagrado bebendo água em um pequeno buraco na rocha”, completa o biólogo Rodrigo Fernando Moro.
Apesar da ausência de registros diretos, há fortes indícios da presença do lobo-guará na região — uma espécie ameaçada de extinção e de grande importância para os ecossistemas do cerrado e campos sulinos. Também foram identificadas presenças ocasionais de animais exóticos, como o javali, e domésticos, como cachorros, o que aponta para desafios de conservação e manejo da fauna local.

Além do papel científico, o estudo ressalta a importância ecológica do Buraco do Padre como uma área de conexão entre diferentes unidades de conservação. O parque possui remanescentes de campos naturais e florestas que se conectam geograficamente com a Área de Proteção Ambiental (APA) da Escarpa Devoniana e o Parque Estadual de Vila Velha, tendo o Rio Quebra Pedra como elo entre essas paisagens.
Outra frente relevante do trabalho é a recuperação ecológica de áreas degradadas e que estão sendo executadas pelo Buraco do Padre. Entre as ações em curso estão a remoção de pinus — espécie exótica que ameaça a biodiversidade nativa — e a reconversão de áreas anteriormente utilizadas na agricultura para campos naturais.
“Não se faz turismo sem conservação. Quando vemos que estamos fazendo turismo proporcionando o uso público dessas áreas e ainda contribuindo com a preservação, temos o sentimento de que estamos fazendo o que deveria ser feito, e isso está dando resultado”, comemora o gestor do Parque de Natureza Buraco do Padre, Alvaro Fernandes Dias Filho.