texto por Rodolpho Feijó (correspondente em Londres)
Com grande destaque, evidência e euforia as manchetes dos principais jornais noticiaram nas últimas semanas o trâmite de um extenso acordo comercial entre Mercosul e União Europeia, processo este liderado pelas autoridades do Brasil.
Sem minimizar a importância do tratado, ainda que seja de questionáveis termos para os interesses brasileiros, é fácil notar que as atenções tem-se voltado, como sempre, para uma análise meramente econômica na relação entre os dois blocos, deixando em carência um importante e detalhado diagnóstico sob o ponto de vista social.
Se nos organismos políticos do Brasil o debate sociológico é quase nulo, na União Europeia a busca por um modelo humano comum é componente indispensável no funcionamento daquela engrenagem, e serve como motor propulsor para o desenvolvimento pleno de todos os países-membros.
Agora, não mais que de repente, as forças do mal atuam, matam e ameaçam a estabilidade da nação. O que são black blocks senão os genuínos filhos da alienação política? Resta decifrar este fenômeno. Luta de classes ou delírio social? A resposta pode estar do outro lado do oceano, na União Europeia.
Tumulto
Às vésperas das eleições do Parlamento Europeu, marcadas para 22 de maio, o bloco apresenta um tumultuado cenário político-social. Isso porque estão em livre ascensão um conjunto organizado de movimentos radicais extremistas, sobretudo de cunho xenófobo. E estas correntes há muito não se apresentavam com tamanha competitividade nas eleições europeias.
Na Grécia, o partido “Amanhecer Dourado”, com 18 membros no parlamento nacional, flerta com o neonazismo e deixa claro a que veio em seu slogan: “Para livrar a terra da sujeira”. Na Bulgária, o extremismo já detém 10% das cadeiras do parlamento e refuta com veemência a acolhida no país de refugiados de guerra da Síria. E vai-se além! A Hungria abriga o que é considerado o mais poderoso partido de extrema-direita da Europa: o Jobbik. Um de seus 43 parlamentares do grupo propôs um cadastro de judeus no país, alegando questões de segurança nacional. Na Holanda, país tradicionalmente liberal, membros do PVV, que são 18% do plenário, chegaram a pedir a proibição do Corão em vias públicas comparando-o ao “Mein Kampf”, de Hitler.
Seriam os black blocks do Brasil uma peste negra endêmica com origens no velho continente? Qual é a atual relação político-social entre Brasil e Europa?
Seja qual for a resposta, é bom ficarmos de olho nos movimentos que varrem o velho mundo com potência. Afinal, as duas unidades, Brasil e União Europeia, estão fatalmente conectadas. E é neste ano, através do voto direto e democrático, que as novas diretrizes na Europa serão crucialmente definidas para os próximos anos.