Assessoria – Publicar um livro no Brasil, hoje, é quase um ato de resistência. Enquanto editoras prometem visibilidade imediata com slogans sedutores, o que se oferece de fato é a venda do sonho, empacotado em planos parcelados. Nesse cenário, os autores independentes preenchem o espaço deixado por um mercado em retração. Desde 2006, o setor editorial brasileiro encolheu 44%, segundo a Pesquisa Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, conduzida pela Câmara Brasileira do Livro (CBL) e pelo Sindicato Nacional dos Editores de Livros (SNEL).
A autopublicação, nesse caso, surge não apenas como alternativa, mas como sobrevivência literária. A liberdade criativa, no entanto, cobra caro. Sem estrutura editorial, visibilidade e distribuição, o autor independente assume sozinho o papel de escritor, editor, produtor gráfico e marqueteiro.
O advogado e escritor João Carrijo, autor de Pai do Destino, experimentou na prática os limites desse modelo. “Acreditava que o sucesso nas vendas de um livro estava umbilicalmente ligado à estrutura de uma editora”, afirma. Escolheu uma casa com gráfica própria, presença digital expressiva e sede na mesma cidade. “Ledo engano. O número de seguidores não está atrelado a número de compradores.”
Carrijo é só um entre muitos que tentam construir um público sem o respaldo de grandes editoras. Seus relatos revelam um mercado onde a independência é sinônimo de sacrifício e a profissionalização, um desafio constante.
Em sua experiência, Carrijo conta o processo desde que decidiu pela editora e recebeu o primeiro exemplar. O investimento foi alto: R$ 14 mil até o lançamento físico e mais R$ 16 mil em marketing, tarde de autógrafos e assessoria.
O manuscrito foi enviado revisado, com capa idealizada e os prazos foram quase sempre cumpridos, no entanto ele lamenta a ausência de orientação editorial e apoio na divulgação posterior. “Meu conselho para aqueles que estão lançando seus primeiros livros é, sejam pacientes e esperem ser adotados por uma editora que se comprometa com o projeto”.

Sem editora é mais fácil?
Ana Adad, autora de Comunicação Curativa, também percorreu o caminho independente. Seu livro nasceu em oito semanas, num processo que ela define como disciplinado e intuitivo. A maior dificuldade, diz, foi dominar a autopublicação digital. Sem editor, equilibrou sozinha os capítulos, apostando numa estratégia omnichannel que inclui e-book, audiobook e edição impressa com capa dura.
Ana investiu entre R$ 25 mil e R$ 30 mil, incluindo design, ilustrações manuais e ações de divulgação. Participou de eventos presenciais e utilizou redes como Instagram e LinkedIn para divulgar o livro e vem tendo resultado. Para quem deseja seguir por esse caminho, recomenda clareza e ação: “Decida sobre o que escrever e comece. Depois você organiza as ideias.” Ela também defende o uso consciente da tecnologia. “A inteligência artificial pode auxiliar na estruturação de capítulos e ideias.”
Não há um número consolidado de autores independentes no Brasil, mas os dados apontam para um crescimento expressivo. Em 2022, por exemplo, mais de 23 mil ISBNs (código internacional que identifica publicações de livros) foram registrados por pessoas físicas.
Já plataformas como o Kindle Direct Publishing (KDP), da Amazon, reúnem mais de 200 mil títulos autopublicados no país. O Clube de Autores, por sua vez, responde por cerca de 27% dos livros lançados anualmente no Brasil, reforçando o peso e a força da autopublicação no cenário editorial atual.
Resistentes, os autores que optam pela independência podem até enfrentar uma jornada solitária, mas alcançam a liberdade criativa de quem busca leitores e, no mínimo, uma nova chance de seguir publicando.
