sábado, 15 novembro, 2025
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Assim Dide Bettega ensinou como fazer rádio categoria AAA

A memória do rádio paranaense vai-se, em parte, com a morte de João Lídio Seiler Bettega, ou simplesmente, Dide Bettega, como ficou conhecido esse radialista símbolo da readiofonia paranaense, levado pelo Anjo da Morte, dias atrás.

Minha carreira de jornalista profissional registra passagem, lá pelos anos 1963/65, na Rádio Ouro Verde, onde fui acolhido pela fidalguia de Dide, e comecei a produzir diversos boletins diários de notícias para a Rádio Ouro Verde, a mais clara menina dos olhos do ‘Dr.Bettega’, como nós, os mais moços, o chamávamos.

Ele se caracterizava pela educação, uma finesse natural, sem os fricotes dos que tentam se passar por cavalheiros no dia a dia do trabalho, para agradar poderosos e até companheiros de labuta.

COM MAESTRIA

Dr.Bettega planejava e executava tudo com maestria: escolheu-me porque me acompanhava no meu trabalho de editor nacional – naqueles dias -, do Diário do Paraná, o modernizador jornal que Assis Chateaubriand implantara no Paraná. Levava também em conta fatores logísticos: o Diário e a Ouro Verde (em sua primeira casa) ficavam na mesma rua, a José Loureiro. No fundo, o que mais fascinava Dide – alma de jornalista vestida de empresário expert em radiodifusão – era o enorme teletipo da falecida UPI, dois metros e tantos de altura, que apenas nosso jornal tinha; isso correspondia a um grande Prêmio de loteria, naqueles dias, quando conseguir uma ligação telefônica para S.Paulo exigia que a pedíssemos com 24 horas de antecedência. Isso se as linhas, físicas, não tivessem caídas. Tudo dependia de fios e postes… Além de Código Morse pelo qual chegavam as notícias nacionais.

O extinto Diário do Paraná

HIPNOTIZADO

Nas vezes que visitou o DP, Dide se mostrou mesmerizado pela novidade que trazia, diretamente de Nova York, noticiário internacional, vindo via cabos submarinos. Era novidade no Brasil. As notícias chegavam em espanhol e eram traduzidas com a melhor das boas vontades por um senhor sessentão, Sr.Wambier. Ele conseguia fazer milagres, tendo à mão um pequeno dicionário Espanhol-Português.

Ligado no mundo da notícia, e diante do isolamento quase total de Curitiba, que tinha apenas 3 linhas telefônicas com S.Paulo, Dide Bettega urrava de satisfação quando a UPI – furando a tudo que se produzia no noticiário gerado no Brasil – trazia um furo sobre temas atualíssimos do nosso país. Um deles, mostrava  tropas do Exército
combatendo guerrilheiros na região de Registro. Uma realidade tão próxima de nós e tão distante…

Nós trabalhávamos com a Agência Meridional do Diários Associados, que não raras vezes consultava o Emílio Zola Florenzano ou o Roberto Novaes, sobre “as novidades do Brasil”. Notícias de primeira mão que nos chegavam via States…

UM SANTUÁRIO

É preciso dizer: Dide Bettega cuidava de sua Ouro Verde daqueles dias como se fosse o zelador de um santuário. No centro de “veneração” daquele raro espaço estavam os milhares de discos, LPs de diversos formatos, que ali resumiam anos de produção artística. O acervo é uma das heranças maiores que Dide nos deixou, além de legar-nos as marcas de um profissionalismo de fazer inveja: sem machucar ninguém, sempre
atendendo – muito bem – o seu público, então sedimentado numa classe AAA, exigentíssima e bem educada também em cultural musical, ele ensinava a fazer bom rádio.

Dide tinha acuidade especial para esse público que, um dia, passou a atender com mensagens espirituais trazidas por pregadores kardecistas em meio a música clássica…. Pax et Bonum, Dide.

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