quinta-feira, 3 outubro, 2024
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Aryon esclareceu o significado da palavra Curitiba

Aryon entre índios
Aryon entre índios

Alguns nomes de valor só são relembrados, às vezes, quando morrem. Foi o caso recente do professor Fausto Castilho, cuja morte foi lamentada em coluna anterior. Mas há casos em que até a morte não desperta a memória.

Foi o que aconteceu com nosso conterrâneo professor Aryon Dall’Igna Rodrigues. Assim como o paranaense (de Cambará) Fausto Castilho se notabilizou na filosofia, Aryon (de Curitiba) se notabilizou na Linguística. Filosofia e Linguística são áreas predominantemente acadêmicas, sem muita repercussão na mídia, nas quais é preciso muito valor para obter destaque. E os paranaenses podem se orgulhar da posição exponencial alcançada por ambos, que, depois de lecionarem aqui, foram para Campinas, como Fausto, e para Brasília e Campinas, como Aryon.

2 – FORMANDO GERAÇÕES DE LINGUISTAS

Carlos Alberto Faraco: ex-discípulo
Carlos Alberto Faraco: ex-discípulo

Aryon Rodrigues morreu em Brasília, no dia 24 de abril do ano passado, unanimemente considerado um dos mais renomados pesquisadores de línguas indígenas no Brasil. Foi ele, inclusive, que resolveu, em bases científicas, a polêmica sobre a etimologia do nome “Curitiba”.

Iniciando suas atividades na UFPR, onde obteve o estímulo de Loureiro Fernandes, mas não do Reitor Flávio Lacerda, resolveu estudar no exterior.

Foi o primeiro brasileiro a obter o título de Doutor em Linguística (Universidade de Hamburgo, Alemanha, 1959). Retornando ao Brasil, foi convidado por Darcy Ribeiro para organizar a primeira pós-graduação em Linguística no país, na recém-criada Universidade de Brasília (UnB). Aryon desligou-se da UnB após o Golpe de 1964, em solidariedade aos colegas demitidos e perseguidos pelos militares, passando a atuar na UFRJ e, posteriormente, na UNICAMP.

3 -VALORIZANDO LÍNGUAS INDÍGENAS

Ao longo de sua carreira, que se estendeu por praticamente sete décadas, se dedicou à análise e documentação de várias línguas, como o Xetá e o Tupinambá, da família Tupi-Guarani (tronco Tupi), e o Kipeá, da família Kariri (tronco Macro-Jê), além da formação de dezenas de novos linguistas, através da orientação de teses e dissertações em universidades como a Unicamp e a Universidade de Brasília (UnB), onde atuou até falecer. Além de trabalhos de linguística descritiva e teórica, Rodrigues dedicou-se ao estudo histórico-comparativo das línguas indígenas do continente, particularmente no que diz respeito às línguas Tupi. É de sua autoria uma das principais hipóteses de relacionamento genético de longo alcance nas terras baixas da América do Sul, envolvendo os troncos Tupi e Macro-Jê e a família Karíb .

4 – OUTRAS OBRAS

Aryon Rodrigues publicou cerca de 150 trabalhos científicos, entre artigos, capítulos de livros e livros. Criou e dirigiu o Laboratório de Línguas Indígenas (LALI) na UnB, e foi um dos criadores e editores da Revista Brasileira de Linguística Antropológica (RBLA).

Em janeiro de 2013, participou da criação do Instituto Aryon Dall’Igna Rodrigues (IADR), que passou a ser a instituição responsável pelo inestimável acervo documental e bibliográfico reunido pelo pesquisador ao longo de sua carreira acadêmica.

Entre seus discípulos de pós-graduação encontram-se o ex-reitor (1990-94) da Universidade Federal do Paraná, Carlos Alberto Faraco e inúmeros outros professores universitários.

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