(por Antonio Carlos da Costa Coelho)
Nos anos cinquenta, minha avó encomendou da Marmoraria Vardanega um túmulo para seu marido, Bortolo Parolin. Escolheu o melhor. O velho merecia. Granito rosa com argolas, cabeças de leões, uma imagem de Cristo e o nome do seu querido escrito sobre a pedra tumular. Tudo feito em bronze. Eu gostava de ir ao túmulo do meu avô. Lia o seu nome em metal polido e isto o trazia para perto de mim.
Túmulos como esse existem muitos no Cemitério da Água Verde. Até um tempo estavam intactos, tocados apenas pelas senhoras contratadas para mantê-los limpos. Hoje estão sujos e, muitos, em completo abandono. Tem-se a impressão de que seu último proprietário está ali enterrado.
Há alguns anos apareceram os ladrões de bronze. Roubaram nos cemitérios as placas, as imagens e complementos dos jazigos e; as placas e bustos dos heróis da pátria honrados nas praças da cidade. O bronze sumiu e das investigações não se sabe o resultado. Talvez não seja do interesse da polícia encontrar as fundições e os artesãos que trabalham com o nobre metal.
A sociedade mudou. Da morte, hoje não se fala. Os campos santos estão abandonados pela prefeitura e pelos familiares dos mortos. Mas, pior do que o abandono dos cemitérios é a crença de que eles são locais para entulhar defunto. Esquecem que cemitérios e túmulos – aqueles construídos com pedras e tijolos – são feitos para lembrar o inevitável destino que teremos. Realidade que não se maquia nem se varre para debaixo do tapete verde dos jardins e parques que mascaram o nome e a função. O abandono que vemos é um anúncio da memória que nossos filhos de netos terão de seus antepassados.